organizando os ingredientes

Este blog é escrito por Roberta Dutra. Nasci em Belém do Pará e passei maior parte da vida no Ceará, me mudei algumas vezes, viajei pelo mundo outras tantas e atualmente moro em Santa Catarina. Cresci em família grande, com muitos primos, primas, tios, tias e mais uns tantos agregados das mais variadas espécies. Tive uma infância plena e feliz e hoje, embora seguindo feliz, sofro muito de saudade. Registro aqui algumas impressões peculiares sobre a vida e seus desdobramentos, sobre o cotidiano e alguns tantos textos escritos para algumas pessoas em particular que exerceram e ainda exercem grande influência na minha vida, além de fazerem parte das minhas melhores lembranças, é claro! Não tenho grandes pretenções literárias, gramaticais nem sequer ortográficas, mas escrevo com muito amor, que é o que todo mundo precisa. Resumindo, mantenho o blog como meio de comunicação entre amigos e famíla distante e possíveis interessados. Entre e fique a vontade...

be my guest!

sábado, 23 de dezembro de 2017

BROTHERHOOD




Ia te escrever no seu aniversário. 30 anos. Emblemático e cabalístico. Mas estava as voltas com a finalização da minha dissertação e acabei deixando passar a data. Não despretensiosamente, mas pq eu te recebi no Natal, e lembro disso claramente até hj.

Lembro de mainha grávida, d'eu lendo, cantando e conversando com vc dentro da barriga dela. Lembro de uma vez que fui subir na cama, escorreguei e bati o rosto no barrigão... fiquei de castigo! Não podia mais chegar perto da barriga, tinha esperar vc nascer, mas tava perto.

Estávamos em Belém, minha mãe foi pro hospital... eu nem consegui dormir: ia ter o meu irmão! Dois dias passaram e ela voltou pra casa de voinha. Sem o meu irmão!

Pensei comigo: kd??? kd o meu irmão? O berço dele tá aqui! As roupas dele tão aqui! EU TÔ AQUI!!!! Onde está o meu irmão??? E ninguém me dizia... e eu me desesperava... Fiquei uns dias escondida num canto da casa, acho que ninguém notou. Alguma coisa de errado estava acontecendo.

Vc nasceu bem pequeno, com pouco peso, precisou ficar uns dias no hospital, na uti/incubadora, não sei ao certo. Mas lembro perfeitamente o dia que vc chegou! Era Natal, vc era tão pqno, tão frágil, tão leve, bem cabeludinho!

Lá estava você! Com uma roupinha de tricot azul claro com branco, sapatinho e casaquinho da mesma cor. Era tão lindo, chorava tão baixinho, nem incomodava. Eu ainda não podia chegar perto. Não tinha autorização. Você ainda estava com a imunidade baixa, não podia ter contato com muita gente. Eu não conseguia entender, só queria chegar perto do meu irmão e ninguém deixava.

Tinha que esperar minha mãe ir pro banho pra chegar perto escondido. Aí eu ficava lá, conversando com vc, cantando pra vc, penteando seus cabelinhos com as mãos. Ainda lembro da primeira vez que te peguei no colo. Acho q vc era do tamanho de um ratinho. Foi a coisa mais incrível. Eu disse que te amava e vc sorriu, como se entendesse. Mas aí mainha chegou, me viu com vc no colo, quase morreu de susto e me deixou de castigo de novo. Eu não podia chegar perto de vc. Foi horrível. Mas eu continuava alí. Me deixavam ficar na porta, longe do berço. E alí eu permanecia o dia todo, te contando minhas histórias, fazendo planos pra quando você crescesse. Imaginando do que iríamos brincar, quais brinquedos iríamos dividir, quando iríamos pro colégio juntos...

Acho que muitos deles se realizaram. Vc cresceu, pude te segurar no colo, fomos pro colégio juntos, eu segurei sua mão sempre que pude, briguei por vc, te defendi. Torci por vc em todos os campeonatos de judô e vc sempre esteve lá nos meus campeonatos de natação. Te levei pras aulas de inglês e vc me buscou nas aulas de espanhol. Te dei aulas de história e vc me deu de física. Estivemos juntos sempre que foi possível.

Eu te levei de mãos dadas pro colégio e te deixei na sala pq vc tinha medo. Muitos anos depois era vc que me buscava no colégio preu não voltar de noite sozinha e a pé. Sempre conversamos muito. Sempre fomos muito parceiros em tudo. Ainda lembro uando começamos a dar aula de reforço pros colegas de turma pra ter algum dinheiro. Lembro dos nossos bonecos do comandos em ação, dos álbuns de figurinhas, dos thunder cats. Sempre dividimos tudo, o quarto, os brinquedos, os relógios, a mesada, os perfumes, o carro, a vida. Até hoje uso perfumes e relógios masculinos... força do hábito.

Quado a situação financeira apertou, vc foi estudar em colégio público pra que eu pudesse fazer faculdade. Quando a gira girou, foi minha vez de ir pra SC pra que vc pudesse ir pra Belém fazer sua faculdade. Deu tudo certo! Deu tudo sempre certo! A vida sempre nos une de alguma forma e nos separa de outra. Lembro de vc na minha primeira comunhão e eu na sua. Lembro de vc me entregando o diploma de ensino fundamental e médio. Lembro de entregar p vc seu diploma de ABC. Esses dias defendi minha dissertação. Tirei dez! E só tinha um único abraço que queria: o seu! Não foi possível. Ossos do oficio. Te dediquei mentalmente, como eu sempre faço em todas as minhas conquistas.

Já moramos em estados diferentes pra que pudéssemos nos reencontrar em situação mais próspera. Passamos inúmeras datas importantes separados pela distância, pelo trabalho. Hoje deu certo! Mais um daqueles dias que dão certo! Depois de tantos Natais separados, vc voltou pra ser o meu presente! Desembarcou na mesma data que, há 30 anos atrás, eu te via pela 1a vez. E a emoção é sempre a mesma! Sempre intensa! Sempre me faz chorar de alegria!

Eu sempre vou olhar pra vc e lembrar daquele sorriso banguela que se abriu ao escutar minha voz. Acho que naquele dia, de alguma forma, vc conseguiu entender que eu estaria sempre alí, sempre a postos pra te proteger, pra te ajudar, pra te escutar e pra puxar a orelha quando necessário. Dizem que os bebês ainda sabem sua missão e reconhecem as vozes de seus pares. Deve ter sido isso! Sempre nos reconhecemos! Sempre nos amamos!

Nosso amor nunca adoeceu, nunca se transformou em possessividade, sempre foi livre de cobranças, condições e extremismos. Um amor livre de restrições de chegar e de partir. Um amor com todos os tempos reunidos, da infância, da vida adulta, das comemorações, das dificuldades. Leve, onde o tempo não manda e a distância não esfria. Jamais perdemos nossa conexão. Falamos, falhamos e nos perdoamos. Dividimos nossos fracassos e entendemos nossas perdas. Nos demos as mãos e levantamos! Somos bons em levantar! Comemoramos nosso sucesso longe de qualquer inveja e olho gordo. Nos completamos! Nossas conversas são sempre as melhores, as mais divertidas nas horas difíceis.

Que Deus conserve nosso amor puro, nossa amizade.
Celebremos!

Por fim, te dedico Tom Jobim, nada menos que Tom Jobim!
FELIZ 30 ANOS!
Que eu possa ver seus filhos nascerem e niná-los como fiz com vc! Que eu possa continuar estando sempre lá! Sempre torcendo, sempre te carregando nas minhas melhores recordações!

"Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você"


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