organizando os ingredientes

Este blog é escrito por Roberta Dutra. Nasci em Belém do Pará e passei maior parte da vida no Ceará, me mudei algumas vezes, viajei pelo mundo outras tantas e atualmente moro em Santa Catarina. Cresci em família grande, com muitos primos, primas, tios, tias e mais uns tantos agregados das mais variadas espécies. Tive uma infância plena e feliz e hoje, embora seguindo feliz, sofro muito de saudade. Registro aqui algumas impressões peculiares sobre a vida e seus desdobramentos, sobre o cotidiano e alguns tantos textos escritos para algumas pessoas em particular que exerceram e ainda exercem grande influência na minha vida, além de fazerem parte das minhas melhores lembranças, é claro! Não tenho grandes pretenções literárias, gramaticais nem sequer ortográficas, mas escrevo com muito amor, que é o que todo mundo precisa. Resumindo, mantenho o blog como meio de comunicação entre amigos e famíla distante e possíveis interessados. Entre e fique a vontade...

be my guest!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

E se eu tivesse 18 anos novamente?

arte de Mari kuroyama

Esses dias pensei sobre este assunto. No meio de uma conversinha informal e despretensiosa relembramos nossos 18 anos, o que estavamos fazendo na época, o que vestiamos, gostavamos e faziamos. Foi bastante engraçado mas bateu uma leve sensação de falta de vivência de frivolidades. Enquanto todos lembravam da época ainda de escola e pre-vestibular eu já estava na metade da faculdade e me entupindo de cursos de idiomas, de extensão, de culinária, de vinhos e cursos e mais cursos e trabalho e empresa recem-montada de consultoria. Não consegui fechar os olhos e lembrar de leveza. Nessa época já estava me preparando pra ir morar na Espanha e desbravar o mundo. Nossa, como eu era tão novinha e tão adiantada... pq não perdi mais tempo com as coisas pueris e que jamais teria tempo novamente de faze-las???? Devia ter aproveitado mais a época da mesada e me adiantado menos nos afazeres profissionais e estudantis. Devia mesmo era simplesmente ter relaxado e parado de atecipar tanto o futuro.

Quando temos dezoito tudo eh urgente, tudo ferve, tudo eh intenso e em mim tudo sempre foi muito. Me cobrava insistentemente todos os resultados possiveis. Tinha que ser a primeira de sala, ganhar todas as medalhas, o credito educativo da pos graduação, morar fora, falar todos os idiomas, saber todas as coisas. E hoje vejo que nem tudo era tão urgente.

Se eu tivesse 18 anos hoje, me olharia no espelho e me acharia linda! Teria a certeza de que não era nem tão gorda e nem tão magra quanto costumava achar dependendo da TPM, que meu nariz não era tão grande e nem a sobrancelha tão torta quanto eu imaginava e que eu jamais pareceria com as garotas da capa da Capricho, e isso não viria a me fazer a menor falta. Então, não me preocuparia com isso.

Não elegeria o dia em que o Fófi me trocou pela Anny na fatidica festa de final de 8a serie como o pior dia da  minha vida e nem choraria o dia inteiro por causa disso. Simplesmente saberia que dias bem mais tristes existiriam. E descobriria ainda que lidar com frustrações nos faz crescer e talvez possa ser a primeira grande diferença entre ser bem resolvida ou não.

Iria pra academia, faria dieta e me empanturraria de chocolate, pq logo depois teria a infelicidade de constatar impunemente que a proximidade dos 30 faz com que o metabolismo mude e se torne, de fato, quase impossivel de emagrecer. Triste realidade. Fora o fato deu ter me tornado intolerante a lactose... absurdo! E agora? o q faço com a droga da TPM? Mato alguém? Oh Godddd!

Sinceramente, não gastaria um tostão furado com balada e cigarro (bebida não entra nas exclusões). Não gastaria toda a grana do estágio com a última coleção da Colcci, nem colecionaria sapatos de marca. Se eu economizaria? Nem um pouco. Gastaria tudo com viagens. Viajaria pra onde tivesse as mais incríveis montanhas-russas, andaria de balão, pularia de bung jump, saltaria de parapente e iria mergulhar. Muitas dessas coisas eu bem que fiz, mas teria feito bem mais.

Se me fosse permitido voltar no tempo, torraria tudo com um tipo de diversão que me ensinaria alguma coisa útil quando fizesse 30 anos. Diversões que me ensinassem a lidar com meus limites e com meus medos. Escolheria namoradinhos não pela beleza e nem popularidade, mas pela parceria. Escolheria aquele que jogasse imagem-e-ação comigo, que cantasse no videokê, gostasse de sinuca e que, principalmente, me fizesse rir.

O escolhido seria aquele que me desse permissão pra não mudar e que gostasse de mim extatamente do jeito que eu sou. Escolheria aquele com quem simplesmente conseguisse conversar por horas a fio, pois 10 anos depois eu saberia que essa seria a coisa mais importante.

Ficaria mais um ano fazendo cursinho de pre-vestibular, desfrutando de mesadas e frivolidades. hoje reconheço que aprendi muito mais nessas cadeiras de colégio do que propriamente na faculdade. Talvez pelo fazto de ter ido pra uma tão cedo, não me permiti estender um pouco mais a infancia e cheguei demasiado verdinha na universidade, naquele mundo onde podemos tudo, ninguém da conta ou fiscaliza coisa alguma e voce eh completamente responsavel por seus resultados e pela falta deles. E o que fiz ao inves de relaxar? Me cobrei um tanto mais! precisava ser a mais jovem formanda da familia e de todas as filhas do circulo de amizades do meu pai, e precisava ainda mais ser a melhor e ganhar a bolsa de pos -graduação, deixar meu retrato de beca estampado na parede, mandar uma via pra cada tio e todo o resto do circo. Absolutamente desnecessario!

Foi no colégio que aprendi como dar tudo de si mesma no que quer que fizesse. Aprendi que sempre dá pra fazer diferente, de uma forma mais divertida e ter melhores resultados. Aprendi o significado da palavra memorável, por coisas que lembro com carinho até hoje, pelos sorrisos, abraços suados depois dos jogos inter-classes, das copas catolicas, semanas cordimarianas, das feiras de ciencias, torcida organizada, campeonato de espiribol (acho que se escreve assim). Quase 15 anos depois ainda lembro de umas tantas materias de vestibular. Dos aulões aos sabados e domingos, das noites sem dormir por causa das olimpiadas de matematica e do prazer de representar o colegio, a sala ou eu mesma no que quer que fosse. Era muito bom ganhar medalhas e receber o abraço e adimiração dos coleguinhas. Pena mesmo foi meu pai nunca ter visto nem presenciado solenidade alguma, mas pelo menos as medalhas todas seguem na caixa de sapato, junto com as do meu irmao e as plaquinhas de honra ao merito, certamente no lixo.

Bom mesmo era ver o Julião lotado e disputar a tapa cada ponto e no final se jogar na comemoração final da semana cultural, não importa que grupo ganhasse, todos aprendiam, tudo era memoravel. Meus coleguinhas da época, pessoas das quais eu sinto imensa falta, me ensinaram que da sim pra ser inesquecivel quando estamos 100% presentes naquilo que fazemos. Foi la que aprendi a me doar, a gastar horas ensinando matematica e fisica pra algum colega que tivesse mais fraco, a ser a pior do time de volei e mesmo assim saber que o resto do time fazia questão da minha presença, nem que fosse só pra animar os jogos. Bom mesmo foi comemorar aos choros e lagrimas o resultado do vestibular e ver to-dos os meus amigos passando. Acho que foi um dos dias mais felizes da minha vida embora tivesse a certeza que, a partir dali todos os caminhos se ramificariam.

E por fim, se hoje eu tivesse 18 anos, dan;caria uma valsa com meu pai, aquela de 15 anos que fiquei devendo porque cheguei toda esfolada do futebol e simplesmente não tava afim de vestir a droga de um vestido branco que nada significava naquele momento. Saberia depois que não teria essa oportunidade por muito mais tempo.

Ao menos, aprendi que saber lidar com a saudade do que ficou pra tras eh o fator que nos permite ir em frente. Tudo o que vivemos, decisões que tomamos, acertos e arrependimentos, é o que nos permite a ser exatamentw quem somos hoje.

E isso é tudo que temos pra continuar!