organizando os ingredientes

Este blog é escrito por Roberta Dutra. Nasci em Belém do Pará e passei maior parte da vida no Ceará, me mudei algumas vezes, viajei pelo mundo outras tantas e atualmente moro em Santa Catarina. Cresci em família grande, com muitos primos, primas, tios, tias e mais uns tantos agregados das mais variadas espécies. Tive uma infância plena e feliz e hoje, embora seguindo feliz, sofro muito de saudade. Registro aqui algumas impressões peculiares sobre a vida e seus desdobramentos, sobre o cotidiano e alguns tantos textos escritos para algumas pessoas em particular que exerceram e ainda exercem grande influência na minha vida, além de fazerem parte das minhas melhores lembranças, é claro! Não tenho grandes pretenções literárias, gramaticais nem sequer ortográficas, mas escrevo com muito amor, que é o que todo mundo precisa. Resumindo, mantenho o blog como meio de comunicação entre amigos e famíla distante e possíveis interessados. Entre e fique a vontade...

be my guest!

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Linger

mais um texto escrito p Nath :)

E ela fez mais um aniversário. E eu, desta vez, felizmente pude estar presente. E nesse momento, nada me alegra mais que isso.

Sim, alguns anos se passaram e mesmo com a distância, mesmo com o retorno, e mesmo com todos os mesmos, tudo continua igual. Seguimos rindo horrores relembrando o passado. Seguimos nos olhando com cumplicidade. Nos seguimos na mesma proporção.

Olho pra tras e pra frente e me sinto tão bem. Tudo em mim ri dos episódeos do melhor ano da minha vida e minha alma se alegra ainda mais pela absoluta certeza de que foi só um começo sem moderação alguma... risos

Sabe aquela sensação de que se você pudesse voltar no tempo faria tudo igual? Os mesmos sorrisos, a mesma alegria, os mesmos jantares, as mesmas tequilas, os mesmos choros e o mesmíssimo tudo. Just to let it linger...

Sabe, nesse tempo que estivemos afastadas por um Brasil, nunca cheguei a me sentir só. E acho que esse é o dia de te agradecer por tudo. Pelas ligações, pelos abraços, pelos risos sem fim, pela visita inesperada em SC que tornou meu dia das mães sem mãe por perto tão melhor. Pelos eternos conselhos prolixos (rsrsrsrs), pelo bom senso, pela parceria e pelo apoio. Por todas as conversas jogadas fora e por todos os papos cabeças.

Não sei se te contei isso, mas há alguns anos aprendi uma prece irlandesa que venho repetindo noite após noite em intenção dos meus. Como diria Clarice: "Já chamei tantas pessoas próximas de 'amigo' e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais pra mim"



"May the road rise up to meet you
may the wind be always at your back
may the sun shine warm upon your face
and the rain fall soft upon your fields.
And until we meet again,
may God hold you in the palm of his hands."


E é isso. Que fique aqui registrada minha gratidão. E que seja pública. Porque as minhas preces noturnas seguirão sendo também em sua intenção. E acho ainda que nem preciso de chamar de amiga, não preciso te chamar de nada, pq vc sempre vai ser especial pra mim.

Mais uma vez, feliz aniversário. E que nos seja permitido comemorar juntas ano após ano. E que vc continue iluminando minha vida!

If you, if you could return, don't let it burn, don't let it fade.
'coz i will always chose to let it linger...

segunda-feira, 21 de maio de 2012

divagando devagar


Sabe quando você começa a escrever uma história, sem pretensão nenhuma? Vai escrevendo aos poucos, devagar... De repente você termina. 
Depois de alguns anos, você lê e re-lê, várias vezes, e percebe que algo está faltando. Você tenta escrever, mas não consegue mais. É quando percebe que sua única opção é dar boas gargalhadas com o que foi escrito.
Eis que surge a dúvida: devo tentar o último capítulo? Não... mesmo porque você sabe que ele nunca existirá, e essa história não terá fim.
Daí lhe rola uma lágrima...
Então você enxuga, pega um pedaço de papel e um lápis, e começa a rabiscar uma nova história...
Afinal de contas nenhum aquário é maior que o mar... keep walking and cheers!

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Conexão zero47

Texto escrito pra Fá Manzano e pra toda minha família do Sul

Creio que todos que já conviveram minimamente comigo sabem o quanto acalento, desde sempre, uma vontade enorme de dominar o mundo. Sempre me busquei em largos sorrisos de todas as espécies, em todos os idiomas, em todos os lugares onde pisei, nos abraços que já dei e ganhei e, principalmente, no rosto dos meus amigos. Incessantemente busco mudanças... mudanças de vida, de sentimentos, de endereço e de todo o resto, talvez assim, um dia encontre o que é meu de fato e de direito.

Muito dos meus amigos de Fortaleza jamais entenderão a minha vontade de me jogar no mundo, outros tantos talvez ainda considerem minha atitude uma absurda falta de apego. Os outros amigos do resto do mundo, que comigo conviveram um pouco menos, quiçá pensei que os esqueci uma vez que não sou de passar a mão no telefone diariamente só pra dar um oi e nem tampouco de ficar fazendo declarações. Isso não faz parte de mim. Infelizmente, essas atitudes ainda não me pertencem.

O fato é que, não importa onde eu esteja, sempre os carrego e carregarei em pensamentos. Sempre me pegarei rindo a toa de alguma boa lembrança. E, entre uma aventura e outra, estarei recarregando as baterias em Fortaleza, porque é aqui que estão minhas origens, minhas raízes, meus laços mais profundos. É aqui a minha terra, onde gosto de pisar descalça, de me banhar no mar quentinho e é aqui que me olho no espelho e me reconheço. Aqui é o lugar onde eu enxergo uma enorme quantidade de iguais. Iguais no sotaque, no sorriso, no cheiro, na boa vontade, na boa fé e na cor.

A inconstância me atrai e me surpreende. O convite a abrir horizontes me fascina e talvez nunca consiga fugir ao chamado da mudança. Não é falta de apego, de vontade de manter ou falta de amor. É apenas a ciência de que jamais conseguiria criar um passarinho na gaiola... não cantaria mais como outrora, não mais seria tão feliz. É a clara visão da hora da retirada. É a resiliência de saber que um dia as borboletas voam e que pelo mesmo motivo não consigo ficar parada por muito tempo. Sempre voltarei aos lugares que me fizeram bem, e se volto, é porque foi feito de amor. Cor dos olhos, da pele e do coração.

Há pouco mais de 2 anos, estava batendo em retirada, novamente ao desconhecido. Não posso dizer que Santa Catarina estava nos planos ou que era sonho antigo, nunca o foi. Mas se a proposta é tentadora, porque não¿ O medo sempre existiu. Medo de morrer na praia depois de beber o mar, medo de não saber se dura, medo de não alcançar...

Porem o que poucos sabem, é que essa aventura não teria sido possível sem uma pessoa, pelo menos não da mesma forma, essa pessoa é a Fabíola Manzano. Fá, sem você, nada disso teria sido tão lindo, eu não estaria aqui escrevendo pra te agradecer, o que na verdade não há no mundo como agradecer ou retribuir a altura. Você abriu suas portas, como ninguém nunca fez antes na vida por mim, e mais importante ainda, abriu com um sorriso no rosto que agora me veio à mente e provocou outro sorriso, só que dessa vez no meu rosto. Você me abriu sua vida e seus amigos, que vieram a se tornar minha família do sul.

Se em alguns momentos me faltou família, me sobrou você!!! Primeiro você foi minha parceira de verão, depois minha coelhinha da páscoa, mamãe Noel e diversas outras coisas em tantas datas comemorativas que passamos juntas. Queria desde já começar a te agradecer e o seguirei fazendo até o fim dos tempos, mas acho que nunca irei conseguir e muito menos com simples palavras como estas, mas jamais desistirei de tentar. Você foi peça fundamental no meu quebra-cabeças (e quebra-contas bancárias hahahahahaha) catarina. Por cada gesto, cada bom dia e boa noite, por cada ida ao Angeloni, pelos porres no Kwaroupe, por cada coxinha do posto no meio da madruga, por cada tarde na praia Brava, por cada almoço na Rose, por cada morro que subimos, por cada funk que dançamos e por cada gargalhada antes de deitar a cabeça no travesseiro. Por ter me dado mais irmãs (Ariele e Chay), por ter me dado uma mãe e um pai (Rose e Neri) e irmãnzinhas menores, por tanta gente bacana que você fez entrar na minha vida, pelos fds na Guarda do Embaú e pelo pôr-do-sol no Leblon em uma das viagens mais inesquecíveis da minha vida eu te digo: MUITO OBRIGADO!!!

Tenho muito o que agradecer, e desde que voltei pra casa venho agradecendo em silêncio, praquele que está vendo tudo,  está te tornando uma pessoa cada vez mais admirável, se antes você era uma, hoje você é muito mais...

Te amo!

Existem pessoas que entram na sua vida e só fazem o bem, só te trazem lembranças boas, essas pessoas certamente são anjos da guarda que um dia voltaremos a encontrar porque tudo foi feito de amor. Saudades imensas do time todo: Fá, Ari, Chy, Rose, Neri, menininhas, Lolys, Angelito, Guilherme, Wolf, Gê todos os demais...

E que venham as novas aventuras, os próximos capítulos, as novas conexões... I´m ready again!

quinta-feira, 8 de março de 2012

o contrário da solidão

texto escrito pra Carurina - 18-02-12

Dia desses estávamos todas nós, reunidas num restaurante-bar ao som de variados sertanejos regados a incontáveis caipirinhas de to-das as frutas e muuuuita dor-de-cotovelo. Notamos todas, quase que ao mesmo tempo, que todas as músicas que cantávamos aos berros engrossando o coral do resto do bar tratavam sempre de temas recorrentes: solidão, abandono e desamor. Assuntos estes que caem como um chumbo, ou uma luva, numa mesa de mulheres semi-sóbrias.

Relembramos tempos idos, amores passados, rios de lágrimas corridas e demos muitas gargalhadas porque, enfim, tudo nessa vida passa! Quando o(s) assunto(s) foi dado por encerrado, eis que surge a filosofa Carurina, no auge de sua "nem tão vã" filosofia e constata que felicidade não se canta (pelo menos não com tanta frequência e nem com tanto sucesso) e que não existe uma música sequer nesse planeta que diga: "Como eu sou estupidamente feliz com meu marido e meus dois filhos, na minha casinha, com meu emprego sossegado e a simples presença dos meus amigos num sábado chuvoso já me traz tamanha alegria..." (juro que estávamos tentando rimar e colocar em um ritmo qualquer) Começamos a rir litros!

E ai começa a tal da psicologia de mesa-de-bar... De fato, não damos a atenção merecida pro amor, nos contentamos com o culto a emoção, buscando irrefreavelmente o agora, a adrenalina nossa de cada dia, que é, no fundo, um sintoma da insensibilidade geral da nação. Estamos ficando robotizados, só conseguimos nos emocionar com o brand new, o risco, o impacto. Ok, uma dose de enfrentamento com o desconhecido acaricia o ego, mas não dá pra se viciar no inédito e perder a capacidade de se comover com o banal.

Pessoalmente, já viajei um montão, namorei um tanto e o fiz sempre tudo ao mesmo tempo, mas olhando pra traz, poucos dias me deram mais prazer que passar o último reveillon em casa, estourar a champagne em família e poder dizer ao meu pai, dentro de um largo abraço, o quanto isso me fez falta nos últimos anos. Não foi nenhum mega evento, eu sei, foi apenas um sentimento; essa coisa tão rara.

De lá pra cá, nem gol da seleção me toca de fato. Pude perceber que alegrias encomendadas e com hora marcada, ainda que necessárias, não me fazem mais vibrar. O que me cala mesmo é o sorriso escapado dos olhos de alguém, um gesto que era pra ser invisível e eu vi, aquele olhar que diz tudo e o sorriso que se basta.

Via de regra, todos queremos intimidade, embora raramente nos permitamos um contato realmente íntimo e desnudo de vaidades. Não queremos nos machucar mas nossas atitudes nos levam pro caminho inverso. Procuramos a felicidade cegamente e nos tornamos incapazes de identificá-la porque o nosso desejo secreto é, quase sempre, secreto até para nós mesmos.

Felizmente -conquanto eu mesma já tenha tentado inúmeras vezes-, é difícil me transformar em pedra, cimento e concreto. Podem fazer minha cabeça, posso mudar de ideia variadas vezes e ser influenciada outras tantas, mas o fato é que hoje sou um pouco mais maleável. Mas arrancar de mim a humanidade e me tornar incapacitada pro amor? Acho que não.

Como diria Marthinha (a Medeiros): "O simples nunca foi fácil, muito menos pra quem tem um coração onde muitos possuem uma pedra"

Parabéns Carurina por sua imensa, contagiante e 'estranha' felicidade com 'a-pe-nas' seu marido, filhos, casa, trabalho e uma tarde chuvosa de sábado de carnaval com os amigos. Quando eu crescer, quero ser exatamente assim! ;)










quinta-feira, 1 de março de 2012

O cara do elevador

texto escrito pra uma das minhas saudades

Meados de 2003, ele sabia onde eu malhava, a que horas corria, onde estacionava meu carro e até já havíamos nos cruzado umas poucas vezes. O que ele não sabia era que eu, há tempos, percebia sua presença, que comecei a correr por sua causa e que isso me renderia umas tantas sessões de fisioterapia no joelho. Era um loro atlético, e por algum motivo inexplicável, bem diferente dos outros 575 loros atléticos que corriam na Beira Mar.

Ele tentava me acompanhar nos exercícios bem discretamente e até gostava de ver meu esforço escomunal pra correr meros 2 km, percebia uma certa dignidade nisso. Eu, por vez, apenas sabia, no auge da minha falta de boa forma, que se tratava de um triatleta, daqueles que madrugavam pra treinar, competiam aos domingos 6am e trocavam facilmente as noites de culto a Baco por um justo sono tranquilo.

Um dia nos cruzamos, num elevador lotado do Potenza, eu entrando e ele saindo, e por razão nenhuma nos cumprimentamos. Duas singelas vogais: Oi e um breve sorriso amarelo quase enterrando os olhos no chão.

Passaram semanas até que voltássemos a nos ver, agora no estacionamento do prédio, de longe, e somente acenamos. Permanecemos de longe, por conta de umas várias viagens a trabalho e competições, por mais uns pares de semanas.

Não lembro quem tomou a iniciativa, se fui eu que resolvi colocar um decote maior e ficar esperando a 89ª rodada de elevador pra entrar apenas quando ele lá estivesse, ou se foi ele que acordou de manhã com vontade de causar. Lembro apenas que fomos além de duas vogais. Ele teve a audácia de me chamar pra almoçar, e eu o desplante de aceitar.

Durante o almoço, eu com meu singelo prato de pedreiro e ele com salada, soube que ele voltara a solteirice a pouco e eu,tratei de me adiantar afirmando convictamente estar numa relação fadada ao fracasso e com os dias cotados, faltava só a coragem pra acabar (juro que era verdade!). Ele tomou um suco e eu uma Coca - passei dias pensando que poderia ter pedido pelo menos uma Coca light pra causar boa impressão - e ficamos de nos falar.

Dias depois e eu ja sem nenhuma unha ou cutícula pra roer - inclusive as dos pés - e, a propósito, com o antigo namoro decadente já ido pro saco, ele telefonou.Depois de contar lentamente a até 10 antes de atender e quase tendo um AVC do outro lado da linha, comentei nadíssima sutil que passara a integrar o time dos solteiros. O recado foi prontamente entendido e saímos pra jantar, e desde então não paramos de sorrir, tocar e nos conhecer.

Eu contei, entre lençóis, dos perrengues e peripécias de se trabalhar com navegação. Ele contou, no nosso 1º fi de semana juntos, da relação que tinha com os pais e de como isso influenciara no seu caráter. Eu comentei, enquanto cozinhava seu macarrão com atum e molho de tomate, que havia sido a criança mais feia do colégio e que isso me custara 8 anos ausente de fotos de família e colegiais. Ele disse, enquanto procurava nossa música preferida na rádio, que pretendia morar no Rio ou em Brasília e eu respondi, enxugando suas costas e penteando seus cabelos, que já tinha morado em Madri e que a experiência era bastante válida.

Me confessou ainda, embaixo do edredom e no meio da sessão pipoca, que de pequeno queria ser astronauta. Eu contei, secando o esmalte, que escrevia poemas. Um dia lemos juntos e ele gostou.

Não chegamos a viver juntos, como grande parte dos casais. Sequer nos rotulamos, mas foi com ele que corri minha primeira maratona e nunca mais ficamos separados por um elevador, nem por um sorriso amarelo e nem por um silencio interrogativo ou possibilidade remota.

Ele se foi pra Brasília com meu total apoio e incentivo, eu fiquei no aeroporto. Seguimos nossas vidas e ainda nos falamos com frequência cada vez mais rara. Pra mim, nunca mais apenas um triatleta. Pra ele, nunca mais apenas uma menina que trabalhava com navios. Sigo lembrando do meu amor contingente. Seguimos sendo saudades...