organizando os ingredientes

Este blog é escrito por Roberta Dutra. Nasci em Belém do Pará e passei maior parte da vida no Ceará, me mudei algumas vezes, viajei pelo mundo outras tantas e atualmente moro em Santa Catarina. Cresci em família grande, com muitos primos, primas, tios, tias e mais uns tantos agregados das mais variadas espécies. Tive uma infância plena e feliz e hoje, embora seguindo feliz, sofro muito de saudade. Registro aqui algumas impressões peculiares sobre a vida e seus desdobramentos, sobre o cotidiano e alguns tantos textos escritos para algumas pessoas em particular que exerceram e ainda exercem grande influência na minha vida, além de fazerem parte das minhas melhores lembranças, é claro! Não tenho grandes pretenções literárias, gramaticais nem sequer ortográficas, mas escrevo com muito amor, que é o que todo mundo precisa. Resumindo, mantenho o blog como meio de comunicação entre amigos e famíla distante e possíveis interessados. Entre e fique a vontade...

be my guest!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

My Precious

Com o advento da esperada formatura do meu único e tão amado irmão caçula, chegou a hora de fazer o discurso. (Essa parte seeeempre sobra p mim! Não que seja um sacrifício, pelo menos não neste caso!)

Sinto-me cheia de um orgulho imenso ao ver meu negu caminhar com seus próprios passos, de seguir seus próprios caminhos, de receber no meu endereço, do outro lado do Brasil, o convite formal da sua formatura, daqueles encadernados, grossos e com muitas fotos, com uma dedicatória linda só pra mim... suspiros... e sinto-me ainda cheia de um sentimento de falta, de uma falta de não sei o que, uma falta que não sei descrever e que me traz lágrimas aos olhos...

Talvez seja a falta psicologica que essa independência iminente do caçulinha implique; na idéia de que meu único irmão não mais precisará do suporte de outrora, na certeza de que nos veremos em intervalos cada vez mais espaçados, na grande probabilidade de morarmos em países diferentes no ano que vem e no outro e no outro, de termos vidas tão corridas que não caiba uma sincronização de agendas, medo de que as ligações se tornem cada vez mais raras, de que o abismo geográfico se torne um empeçilho e muito medo de que minha opinião e conselhos não sigam tento mais a valia que costumavam ter... medo de não poder compartilhar junto tantos outros Natais em família e receio de não poder abraça-lo e tê-lo por perto tanto quanto eu gostaria.

Sei que esse é o início de um futuro próspero e cheio de realizações e me orgulho um tanto mais disso, mas sigo com um sentimento egoista e protecionista que sempre tive para com ele e me pergunto: E agora? Quem irá protegê-lo? Quem irá impedir que os meninos maiores da escola façam brincadeiras de mal gosto? Quem irá dividir a merenda na hora do recreio? Quem irá acompanhá-lo por km e km a pé pro colégio? Quem será meu parceiro de baladas e conversas sem fim? Quem me ligará no meio da noite completamente de porre gritando "eu te amoooooooooo!!!" e nada mais? Quem vai me pedir dinheiro pra pagar a cachaçada? Quem vai gastar minhas milhas acumuladas? Pra quem eu seguirei fazendo compras e mais compras porque sempre acho que tem alguma coisa faltando no guarda-roupa? Pra quem eu lerei 'o pequeno príncipe'?

E vem a conclusão de que o meu menino cresçeu e isso chega a doer... se pudesse, o teria em uma redoma para o resto da vida só para poder dar um beijo de boa noite... toda noite... afinal de contas, nos tornamos responsáveis por tudo o que cativamos.

Lembro-me novamente do livro do pequeno príncipe quando trona-se obvio que os homens cultivam muitas rosas, jardins e mais jardins delas, sem encontrar jamais o que buscam. Posso olhar para todos os jardins do mundo, posso ver e sentir o aroma de todas as rosas, porém, nenhuma delas será como meu irmão, pois apenas uma dessas rosas me cativou, apenas uma eu coloquei na redoma para protegê-la e apenas esta é a dona do meu coração.

Se me fosse permitido o protegeria da chuva e do sol em excesso, dos falsos amores, dos falsos amigos e de tudo que pudesse não lhe ser proveitoso e vejo que não existe nenhuma borboleta que não tenha sido antes uma singela larva.

Talvez tenha chegado a hora da minha borboleta voar e ainda que a distancia e a saudade congelem o meu coração, só me resta desejar tudo de bom e olhar para o céu toda noite, porque sei que em algum lugar ele também estará fazendo a mesma coisa e seremos estrelas iluminando reciprocamente o nosso caminho...

E para demonstrar todo o meu orgulho e afeto e amor e tudo, segue o discurso que será lido por mim, semana que vem, em sua formatura:

Prece para quem se ama

'Desejo que a sua vida inteira seja abençoada, cada pequenino trecho dela, em toda a sua extensão. Desejo que os nós que apertam o seu coração sejam gentilmente desatados e que os sentimentos que os formaram se transformem na abertura capaz de criar belos laços de afeto. Desejo que o seu melhor sorriso, esse aí tão lindo, aconteça incontáveis vezes pelo caminho.Que cada um deles crie mais espaço em você. Que cada um deles cure um pouco mais o que ainda lhe dói.


Desejo que volte para o seu mar quantas vezes forem necessárias até encontrar o seu tesouro... Que saiba sempre compartilhar a sua felicidade, o jeito mais gostoso para se expandir a riqueza. Desejo que quando os ventos da mudança ventarem mais forte, e sentir medo de ser carregado junto com tudo o que parecerem arrastar, você já conheça o lugar onde nada pode arrastá-lo. Que já saiba maneiras de respirar mais macio quando as circunstâncias lhe encurtarem o fôlego. Que, com o passar do tempo, a sua alma se torne cada vez mais maleável, mas que seja firme o bastante para nunca desistir.


Desejo que tudo o que mais lhe importa floresça. Que cada florescimento seja tão belo que atraia os pássaros com o seu canto, as borboletas com as suas cores, o toque do sol com seu calor mais terno, e a chuva que derrama de nuvens infladas de paz. Desejo que, mais vezes, além de molhar só os pés, você possa entrar na praia da vida com o coração inteiro e brincar com a ideia que cada onda diz...

Desejo que não tenha tanta pressa que esqueça de colher estrelas com os olhos, nas noites em que o céu vira jardim. Que continue a ter sabedoria para encontrar descanso e alimento nas coisas mais simples da vida. Que a cada manhã a sua coragem acorde bem juntinho de você, sorria pra você, e o convide para viverem uma história toda nova, apesar do cenário aparentemente costumeiro. Que tenha saúde no corpo, saúde na alma, saúde à beça.
 Desejo que encontre maneiras para se fazer feliz no intervalo entre o instante em que cada dia acorda e o instante em que ele se deita pra dormir, porque a verdade é que a gente não sabe se tem outro dia. Que quanto mais passar a sua alma a limpo, mais descubra, mais desnude, mais partilhe, sem medo, a beleza que desde sempre você é. Que se sinta livre e louco o bastante pra deixar a sua essência florir.


Não importa quanto tempo passe, não importa onde eu esteja, não importa onde esteja você, abra os olhos pra dentro e ouça: o meu coração estará dizendo esta mesma prece de amor para o seu. Não importa o quanto a gente mude, o quanto a distância aparente nos afastar, sinta sempre o meu amor incondicional, exatamente como neste instante... afinal de contas, o meu mundo não teria razão se não fosse você!'


E pra terminar, não poderia deixar de citar meu poeta favorito:

"assim como viver sem amor não é viver, não há vc sem mim e eu não existo sem vc .."

Muitos beijos e luz pro meu eterno IRMÃO METRALHA! ;)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

meu feliz Natal p vcs!


MY DEARS,



Como nao estarei por perto no final do ano e provavelmente sem acesso a emails, ou pelo menos sem vontade de le-los, resolvi antecipar meus votos de um feliz Natal e um ano novo muito prospero a todos voces que fazem parte da minha vida e para os quais eu dedico minha profunda estima...


O Natal para mim eh tempo de recordar! Recordar daqueles que estao sempre em contato pq estao sempre por perto, daqueles que vejo pouco pq estao distantes e daqueles que nao encontro mais porque o tempo passou... Mas eu lembro especialmente de voces, que por um motivo ou outro sempre me oferecam sua amizade independente do tempo e da distancia.


Desejo a todos voces que neste Natal entre tantos presentes que possam lhe encartar os olhos, voces recebam tambem muitos outros que lhes enriquecam a vida para sempre e lhes enobracam a alma: paz, amor, esperanca, felicidade, prosperidade e muito sucesso!


Do fundo do meu coracao desejo que tenham um lindo e abencoado Natal junto das pessoas que tem o prazer e o privilegio de seguir convivendo com voces. Que este ano que se inicia, voces possam realizar os mais secretos sonhos e que tenham saude para usufruir de todos eles. Que o amor e a felicidade encham seus coracoes em todos os dias de suas vidas, afinal de contas, meus dias sao tao melhores porque sei que tenho amigos como voces.


Caso pudesse fazer um pedido a Deus, pediria que mantivesse a luz de cada um irradia, a pureza d'alma que eh peculiar a alguns de meus amigos mais intimos e a beleza interior que faz com que cada um que copiei nesse email seja tao especial para mim e tao importantes pro meu mundo.


Sei que 2010 foi um ano de mudancas profundas e que me afastei de alguns, perti contatos com outros, porem sigo levando todos no coracao!


E se eh de continuar desejando e fazendo planos para um futuro melhor (adoooro essa epoca do ano em que renovamos nossa fe e energias!), desejo que tenham muita fe e coragem para realizar tudo o que almejem, liberdade para ser o que realmente queiram ser e poder fazer tudo aquilo que deve ser feito e muita saude para fazer tudo que lhes tragam felicidade. desejo alegrias e bencaos estensivas aos familiares e afins para lhes assegurarem o sucesso que merecem. Respostas para aquelas questoes nao resolvidas que passaram, forca para mudar tudo o que nao mais for relevante em suas vidas, sabedoria para aceitar as coisas que nao podem ser mudadas, muita satisfacao no trabalho, na familia, na rotina e muita compreensao no que precisarem...


E pra terminar, desejo ainda que tenham fe num futuro maravilhoso e que esta fe seja compartilhada com todos que estejam ao redor, que tenham amigos leais que o ajudem a crescer e melhorar sempre, como eu tenho a voces, que vejam a beleza com um significado maior do que a aparencia e um amor pra durar a vida inteira!!!


Se me permitem, gostaria de fazer alguns agradecimentos especiais:


Aos meus pais, agradeco por existirem e por todo o amor e apoio de sempre. Voces sao meu alicerce, a base do meu amor, do meu carater e de tudo que eu construi. Saudades imensas de voces!


Ao meu querido irmao Ruany, pessoa que eu mais amo no mundo, dedico todo o meu orgulho! orgulho por seres quem es, de olhar pra ti e apenas enxergar coisas boas, de puder ver tua grandeza de alma e de atos e meu profundo orgulho pelo teu carater! parabens pela formatura tao esperada! que isto seja apenas o comeco de um futuro brilhante!


Aos meu Xuxus e almas gemeas (Ariane e Rodrigo) agradeco pelo carinho e zelo que tiveram com minhas questoes familiares em um momento tao dificil e por ter me representado junto aos meus pais quando nao pude estar por perto, nada mais posso dedicar alem do meu coracao, que sempre foi de vcs!


Ao Fabio Trindade, desejo que todas as bencaos direcionadas a mim sejam transferidas a voce e sua familia. Meu profundo agradecimento por ter devolvido um olhar sao para minha mae, simplesmente nao sei como agradecer!


A Carlinha e Nathalia, furacoes que passaram na minha vida e baguncaram tudo, levarei voces sempre em minhas lembrancas e nunca deixarei de sorrir em nenhuma delas. Espero que no proximo ano possamos nos encontrar mais vezes e que me seja permitido conhecer minha nova sobrinha e que os negocios em Constantinopla/ Bizancio (rsrsrsrs) sejam bastante produtivos!


Ao Alexandre Silveira Tche, Loutien wet cat, Fabiola big coconut, Ze Vieira e Anax, agradeco todo o apoio e suporte profissional que me deram, sem ele nao estaria onde estou hoje. Vcs sao pessoas que aprendi a amar com o tempo (alguns levei mais tempo que outros, reconheco!) e espero que o tempo nao nos separe! E agradeco ainda a gata molhada e big coconut por todas as preces direcionadas aos meus pais! Tche, que voce possa voltar ao Brasil assim que queiras e onde desejares e que nos cruzemos nesse mundo azul, conte comigo sempre!


Pra Kaka, Lu recife e Renatona Bixa, desejo poder ir no casório! e facam casorio coletivo preu aproveitar as passagens por favor! E que eu possa carregar no colo pelo menos alguns dos meus sobrinhos que vao nascer, ja que eu definitivamente fiquei pra titia...


Bruno Guitti, desejo que tu mande noticia e amenize minha saudade imensa! E que a tia Rita mande pudim de banana p mim por sedex junto com uma caixa de Guitti's beer!


Pro Ericuzim, desejo tudo e muito mais que nao saberia e nem nunca soube sequer descrever...


Frederico Lemos e Roberto Pio, pra vcs que esteviveram presentes em todas as fotos da minha vida escolar, que foram expulsos de aulas e mais aulas comigo, que me ajudaram a pular o muro da escola e a encarar a sala da coordenacao tantas vezes e que foram parceiros em viagens e tantos outros Natais em familia, todo o meu amor desde sempre e para sempre!

Fá, Chy, Rose e menininhas, Cabelo e Gab, agardeco por terem me recebido de bracos abertos e por tornarem esse ano bastante agradavel! A Fa desejo q a nova vida em Curitiba seja cheia de realizacoes e ao Gab ofereco meus dias de 2011... e 12 e 13... hehehehe


A vcs, todo meu amor e todos os meus sinceros votos de dias cada vez melhore! Muitos beijos abracos e muita luz! Que seus caminhos sejam irradiados de bons fluidos e que voces possam fazer a diferenca na vida de todos que os rodeiam...


E soh p terminar, li isso hoje, oriundo de um comentario obviamente da Beta Aline, minha amiga mais inteligente, e tive que compartilhar o pensamento do dia com vcs, ja que concordo em genero, numero e grau: "Ser alegre (muito melhor do que ser feliz) é gostar de viver mesmo quando a vida nos castiga" Contardo Calligaris"


Feliz Natal e Feliz Ano Novo da amiga distante,

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

calem a boca nordestinos???

Tenho muitos amigos Paulistas e não acho que devemos generalizar. Também não apoiei Dilma nas eleições, pelo contrario, gostaria de ter visto a vitória do Serra, não porque o considero um candidato ideal, mas porque minha candidata Marina Silva não chegou ao segundo turno e também por achar, assim como Eça de Queiroz, que políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos, e pelo mesmo motivo!

Como muitos, também sei que quem ajudou e muito a colocar novamente o PT do governo foram os PSDBistas cultos e bem educados, que aproveitaram o feriado para viajar em massa, assim como eu! Pessoas que - repito: como eu! -  não votaram no segundo turno por um ou outro motivo e que por isso não tem direito de reclamar de nenhum resultado democrático.

Lamentei e sigo lamentando o resultado das eleições para presidente da mesma forma como lamentei a eleição de Tiririca como o candidato mais votado do Brasil... e se há de considerar a cambada que seguirá com ele no governo.

É de se lamentar também que a lei da "ficha limpa" não tenha sido aplicada, já que houveram umas tantas exceções...

Como boa nordestina que sou, caso me fosse dado a oportunidade de escolher o local de meu nascimento e o pudesse fazer umas tantas vezes, escolheria nascer no nordeste todas elas, de outra forma, talvez preferisse nascer em outro país. Não por acreditar em superioridade. Não acredito nisso! Apenas acho que as pessoas e culturas são diferentes. Nem melhores e nem piores, apenas diferentes!

Nasci no norte, fui criada no nordeste, já morei no sudeste, visitei o centro-oeste e hoje vivo no sul! Acho que não posso ser acusada de falta de conhecimento de causa e gostaria de mais uma vez deixar declarado todo o meu amor pelo nordeste! Terra esta que acolheu a mim, a minha família e que certamente verá meus filhos nascerem.

Por ser nordestina e esclarecida - pelo menos tenho a certeza de ter um bom CV e de já ter conhecido todas as regiões do Brasil in loco - concordo sim com uma melhor distribuição de renda em todo o país e apoio iniciativas nesse sentido, desde que o verdadeiro propósito não seja desvirtuado! E é exatamente por isso que discordo da política assistencialista do PT, que ao meu ver, distribui o dinheiro extorquido da classe media, que está cada vez mais em colapso e os distribui para uma massa, não visando o crescimento sustentável, mas sim a compra de votos de eleições futuras. Porque desvincular os bolsas das obrigações familiares de manter as crianças na escola com frequência exemplar e boas notas? Alguém sabe que existe lei impedindo alunos fracos de reprovarem? O bolsa família não mais é usado como uma forma de promover a educação, com prazo determinado e com cobrança de monitoramento da família. Se assim o fosse, teríamos crianças mais instruídas, longe de exploração de trabalho infantil e sem precisar passar fome para que pudessem frequentar uma escola...

Me sinto ferida ao ver a forma como essa política assistencialista manipula um povo sofrido que cada vez mais é privado de uma boa educação e de condições de vida minimamente razoáveis. E me fere mais ainda ver que 27.5% da minha renda tenho que entregar a um governo que além de não a utilizar de forma adequada, pretende ressuscitar a CPMF, elevar a carga tributária para continuar me oferecendo em troca escolas de péssima qualidade, universidades cada vez mais sucateadas, serviços básicos que ao meu ver inexistem e insegurança de sair na rua e não saber se volta vivo pra casa.

Gostaria de um dia poder escolher um candidato pelas suas ideias e não apenas por bipartidarismo que se reveza no poder. Que apareçam muitas Marinas, que tão bem representam o sofrimento da maior parte do povo, independente de região, e que suas vozes não se calem diante de nenhum preconceito étnico, religioso, regional e nem partidário de maneira sádica, violenta e contraditória como vejo acontecer no twitter e facebook com a campanha de calem a boca nordestinos!

Por todos esses motivos, gostaria de compartilhar com vocês um texto que recebi por email e que mostra apenas alguns poucos motivos pelo qual me orgulho de ter coração nordestino, embora não tenha nascido nessa região.

E novamente enfatizo, não creio que generalizar seja uma boa ideia, mas depois de ver um comentário similar no perfil de um colega paulista extremamente instruído, bem escolarizado (o que não significa educado!), muito bem viajado e nascido em "boa família" (um outro dia escreverei um texto questionando sobre esse conceito), que por sinal é casado com uma baiana e passa férias no nordeste, não consegui me calar. Sem julgamentos, não me sinto nenhum pouco a vontade para isto, apenas para mostrar a outra face do nordeste e de seu povo, que por anos deu (e segue dando) suporte ao sul e sudeste fazendo o trabalho pesado e quase desumano na construção civil, limpeza e outros por necessidade e por acreditar que não a nada que nos desmereça ao prestar um serviço honesto e muito bem feito, diga-se de passagem.

Enfim, acredito em caráter e gostaria que as pessoas fossem sempre avaliadas por isso.

E para encerrar meu texto, dou um salve a todo o Brasil e a junção de culturas tão diferentes que nos tornam um país tão rico!

créditos de : José Barbosa Junior





"A eleição de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos.



Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: "Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!".

Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos "amigos" Houaiss e Aurélio) do nosso país.


E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!


Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!


Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?


Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa Rachel de Queiroz?


Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?


Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos... pasmem... PAULISTAS!!!


E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.


Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.


Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura...


Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e Jackson do Pandeiro e no cearense Belchior


E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia...


Ah! Nordestinos...


Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?


Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.


Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!


Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!


Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário... coisa da melhor qualidade!


Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso... mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!


Minha mensagem então é essa: - Calem a boca, nordestinos!


Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.


Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.


Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”


Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!"













quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Porque era ela, porque era eu


Pra minha Xuxu...

Well, por problemas tecnicos, operacionais e mentais completamente meus, o grande bouquet de flores amarelas nao chegaram a tempo... e na verdade tambem nao chegarao mais. Enfim, minha culpa, minha maxima culpa!

Posto isso, tenho obrigacao de postar pelo menos o que estaria escrito no cartao de aniversario... 


Como tenho problemas de contencao e realmente nao consigo escrever pouco, pelo menos nada que caiba em um unico cartao - (deviam inventar cartoes de aniversario com espaco de 1.5 x 1.8m pra gente poder se expressar sem restricoes... detesto cartoes pequenos limitando minhas palavras, alias, detesto limitacoes!!! pronto! falei!) - procurei as palavras daquele que realmente nos entende, e nosso Chico como sempre resolveu meu problema. Nao sei o que seria de mim sem ele, sem o discernimento que lhe eh comum e sem a sua peculiar capacidade de transcrever em palavras o que nao conseguimos expressar... aiii, amo Chico! E ela tb!

E sem mais delongas, segue o texto do cartão:


"Eu não sabia explicar nós dois
Ela mais eu
Porque eu e ela
Não conhecia poemas
Nem muitas palavras belas
Mas ela foi me levando pela mão
Íamos todos os dois
Assim ao léo
Ríamos, choravamos sem razão
Hoje lembrando-me dela
Me vendo nos olhos dela
Sei que o que tinha de ser se deu
Porque era ela
Porque era eu"


Arrrhhhh, ja comecei a chorar... puta merda! To no meio do escritorio chorando em pleno horario comercial... =/

Queria tanto ter estado ai, ter ido pra Candinde contigo pagar promessa pro Santo e refazer as juras e rezar de joelhos e comprar terco e santinho pra distribuir p galera e morrer de rir e morrer de chorar de tanto rir e rir das promessas e dos motivos dessas promessas e de como as pagamos e de tantas outras coisas. Queria subir a pe a ladeira enooorme pra ver a imagem do Santo. Assistir a primeira missa naquela igreja linda e que ja deve estar com a reforma concluida, acender aquela vela no pe do altar, comer buxada de bode e tomar uma cerveja estupidamente gelada no boteco em frente a pracinha...

Comecei a confabular e me deu uma subita saudade do teu pai, e do meu... achei que ia ser muito legal se essa cena tivesse acontecido e o tio Praciano estivesse do lado, e o Ze Antoin do outro... acho que dariamos umas boas risadas, e se duvidar, ainda descolariamos uns bons cavalos pra participar da romaria. E seria ainda melhor se na trupe tambem tivesse nossos amados irmaos que sao tao parte de nos... o cabecao, o leitao e o negu, se bem que pensando melhor viraria bagunca...

Lembrei da ultima vez que desembarquei em Fortaleza, no meio da madrugada, podre de cansada depois de trocentas conexoes, e a primeira coisa que falei imperativamente quando entrei em casa foi: "Pai, descola uns cavalos e vamos a Caninde agradecer! O santinho precisa saber que eu to longe mas nao esqueci dele!"  risos...

Aqui por essas bandas nao tem romarias, nem festas juninas, nem roda de viola... por aqui nao se ve bandeirolas, fogueiras, fogos pro Santo... por aqui ainda nao vi nenhuma grande manifestacao de fe, por aqui nao se agradece a chuva, nao se pede piedade pro povo, nao se acende vela nem se joga flores pro orixa... deve ser porque os ventos que sopram por ai nao sopram ca... por aqui eh tudo muito verde e prospero... deve ser por isso que esqueceram de agradecer...

Sigo agradecendo, agradecendo e pedindo clemencia. Peco sempre pela saude dos nossos pais, por juizo pros nossos irmaos, por prosperidade pros que sao da terrinha, por sabedoria e discernimento e por forca, muita forca pra aguentar a saudade, mesmo sabendo que por mais que demore eu sempre voltarei. E rezo mais ainda pra que a distante nao me afaste dos meus amigos, nem da minha origem e nem de tudo que eu considero de valor... e pra que as minhas lembrancas nunca caiam no esquecimento. E principalmente, pra que a chuva e a fartura que ela traz nao me faca esquecer dos tempos de seca e de mansidao que me foram peculiar.

Enfim, como diria Fagner: "na despedida fez um dia lindo, quem sabe tudo estara sorrindo quando eu voltar..."

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Oktoooooober


treinando para cantar com meus amigos germanicos na Oktober...
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
adoooooooooooro!
 
Trinca mais não trepa
Trinca mais não trepa
La lara la ra laia
To do sapo pula
Só o saponete no
To do cachorro late
Só o cachorro quente no
Todo bode berra
Só o bodegueiro no
Toda pata choca
Só a patatinha no
Ó Suzana
Essa vida é tão bonita Estribilho
Ó Suzana
Tu também és tão bonita

Todo aço queima
Só o açolejo no
Toda massa cresce
Só a massaneta no
Todo tipo eu gosto
Só o tiputado no
Toda língua fala
Só a lingoíça no

Toda vaca muge
Só a vacalume no
Toda pêra é fruta
Só a perereca no
Toda mão tem filho
Só a mãonhonese no
Todo amor é lindo
Só amordedura


meu... hj é sexta e depois de quase morrer de rir... tive que postar!!! 

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Expirou?

Esses dias, após um longo delay comunicativo, resolvi reestabelecer uma conexão qualquer e morri na tentativa. Acessei aquele perfil de orkut pra dar um bom dia ou, sei lá, perguntar como anda a vida... Enfim, qualquer coisa que trouxesse de volta o vinculo perdido ou que ao menos amenizasse o abismo que se criou em tão pouco tempo e quando dei por mim, meu testemunho não estava mais lá.

Como assim? Inacreditável! Deveria ter sido falha no sistema, o bug do século, um revertério de Zeus, uma revelia de Ogum quem sabe, mas definitivamente não poderia ter sido apagado! ...ou pelo menos não de propósito. Por algumas tantas horas, na verdade por dias a fio, me recusei a acreditar que meu testemunho não estava mais lá.

Por que não? Num ataque de sandice, tendo pitis e maldizendo o sol que estava em Marte e o maldito ano do Tigre (para os que são de Javali) resolvi perguntar porque... e a resposta veio em apenas uma palavra, a passos largos que não só me atropelaram como me deixaram em estado de choque profundo, praticamente um coma sentimental induzido. EXPIROU! Sim, essa foi a resposta: "expirou!" simples assim...

Para tudoooooooo!!! Para o mundo que eu quero descer!!! Alguem me explique como um sentimento expira? por favor!!! preciso entender!!! realmente preciso!!! Isso doeu!!! Doeu com tamanha intensidade que sequer conseguia mais caminhar. Cadê meu chão? Fiquei paralisada!!!

Existe prazo de validade para os sentimentos??? E porque ninguém me avisou???? Fui procurar o significado de validade no bom e velho Aurélio e encontrei:

"VALIDADE: prazo estimado para que os produtos possam ser consumidos estando ainda adequados para tais fins."

PRO-DU-TOS!!! O Aurélio não fala em sentimentos! E o Auréio sabe tudo!!

O que devemos fazer com o "Eu te amo"? Ele também atinge um prazo? Joga-se fora? Torna-se impróprio para consumo? Cresci julgando o amor eterno, uma "coisa do coração", um sentimento puro, extracorpóreo, a química perfeita para mais de um ser.

O que as pessoas estão fazendo com Camões???? "Que seja imortal, posto que é chama, mas que seja eterno enquanto dure". Tudo bem que a idéia do 'pra sempre' me assusta, na verdade nem acredito em 'pra sempre'..., mas deviamos ter mais respeito com os "eu te amo" que proferimos e principalmente com os que escutamos.

Se é há de existir um prazo de validade também para sentimentos, que sejamos flexíveis!!!

Lembro-me quando criança de ganhar brinquedos, para alguns deles outorgava tamanho apreço que dispendia horas a fio em brincadeiras sem fim, até que em um dado momento, aquele brinquedo não me trazia mais o prazer de outrora e eu o colocava numa pilha de brinquedos... sem validade. Mas eram apenas brinquedos...

Tamanha é minha indignação que poderia até dizer que sou a favor da pena de morte para os que banalizam o 'eu te amo'. O amor não expira! Os sentimentos não expiram!!!!

Ainda posso sentir o cheiro, o calor, o toque e acho que sou suficientemente madura pra entender que não é mais real! O que não significa que nunca existiu, ou que simplesmente expirou! As coisas apenas mudam, mudam de lugar, de prioridade, de nível de atenção dispensada...

Nós mudamos! Mudei de lugar! Mudou a atenção! Mudamos as prioridades! E passamos reciprocamente a não ser mais uma delas, não figurávamos mais em nossas urgências, a falta não significava mais aquela vontade extrema de estar junto, mesmo que distantes. Não existia mais urgência para se ver, nem pra se falar. E essa falta de cuidado fez com que o sentimento fosse abrandado e mudasse o foco. Não que expirasse!

O casal não existe mais, expirou, de fato! Todavia o sentimento existiu e ainda remanesce. Não somos mais os mesmos! Com os eventos anteriores entramos numa era glacial e o descaso rotineiro fez com que o gelo se tornasse meu propulsor sanguíneo e por isso não atendi o telefone. Por isso não nos dei a oportunidade das ultimas palavras, do adeus... erro meu! Assumo!

Por não querer trancafiar a porta e nem sequer fecha-la, preferi deixa-la encostada, entreaberta, e fazendo isso dei margem para outras interpretações. Erro meu, repito.

Mas, e se ao invés de descartar nossos sentimentos nós o reciclassemos?

Não é porque o casal expirou que o amor perdeu a validade junto. Isso não é uma pilha de brinquedo velho! Porque não sermos amigos? Sim, amigos de verdade! Não daqueles que se cumprimentam por educação. Isso não me interessa! Falo de amigos de verdade, daqueles que conversam, que riem um com o outro e que sofrem com as mazelas juntos. Afinal, fomos tão felizes juntos. Onde ficou a química perfeita? E a sintonia quase telepática?

Proponho o não descarte dos sentimentos (próprios e alheios)! Lanço a campanha: "RECICLE OS SEUS SENTIMENTOS"!!!

Espero ter algum seguidor... e sigo secando os olhos com os punhos.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Quereres

Saudade, palavra triste quando se perde o convivio com pessoas queridas. Esses dias me bateu uma saudade enoooooooooorme! Me peguei olhando umas fotos e o que eu vi me pareceu tão real que quase pude revivê-las. Foram tantas fotos que deu saudade de falar com meus quereres, de abraçar, de rir um monte, de rir por nada, de tomar uma gelada no colher de pau, do cinema de arte do dragão, dos mucuras infindos, do frescoball na praia, das festinhas lá em casa, das tequilas, das corridinhas da beira mar, de tomar um côco gelado...

Ahhh como queria Fortaleza agora e queria tb ter ido no chá de fraldas da Carlinha... =/ mas não deu...

Vendo essas fotos vejo como tudo foi sempre muito legal e cheio de vida e me conforta saber que mesmo com a distância e mesmo com todos nossos perrengues do dia a dia a amizade continua... aiii quase chorando a minha dor e me aliviando com meus tristes ais!!! São prantos de dor que dos olhos caem porque bem sei, quem eu tanto amei e amo não verei; e me agonia a possibilidade de dizer a palavra jamais... Sou da teoria de que passado não se nega e nem se esconde, nem muito menos se tenta ou consegue esquecer, ainda mais se for um passado tão bom e tão agradavelmente saudoso.

É engraçado e quase irônico como as vezes tudo me faz lembrá-las. As coisas que antes passavam desapercebidas passam a sobresair-se e o que antes achava pequeno passa a ser grande e um tanto mais nítido. Ultimamente ando vendo dezenas de jovens mamães nas ruas passeando com seus bebês – não que não as visse antes ou que não existissem, mas simplesmente as ignorava por pura falta de atenção - e me dói o fato de não puder acompanhar de perto a gestação da primeira filha de amiga muito próxima. E me dói com igual intensidade não poder abraçar a Nath quando ela sente falta da irmã distante ou quando eu sinto falta do meu caçula. Tenho prestado bastante atenção nas cores que eu não sei o nome, como diria Adriana (a Calcanhoto) – cores de Frida Khalo e Almodolvar, e venho dando crédito as borboletas do jardim que vagam tristes por sobre as flores quase que implorando por carinho e um pouco de amor.

Ontem tomei duas garrafas de Casal Garcia – o vinho verde preferido da Nath - em casa, em plena segunda feira, vendo apocalipse now, cantando Suzie Q e comendo chocolates finos e amargos... e só não liguei pra dizer que a amava pq ja era alta madrugada. Tenho certeza de que se estivesse do meu lado dariamos umas boas risadas, conversariamos sobre uns tantos assuntos interessantes ou não, de amores, de futuro e de tudo mais que nos soasse amistoso.

Recentemente uma criança me perguntou qual tinha sido o dia mais feliz da minha vida e eu outrossim me questionei what a difference a day made? 24 little hours... Demorei um tanto pra responder e não cheguei a nenhuma conclusão que apontasse a uma data especifica. Presumo que se a pergunta tivesse sido feita pelo meu pai eu responderia que no dia em que fui mais feliz eu vi um avião se espelhar no seu olhar até sumir. De lá pra cá não sei, caminho ao longo da estrada, faço longas cartas pra ninguém e o inverno aqui é quase glacial. A propósito, há algo que jamais se esclareceu, onde foi exatamente que larguei naquele dia mesmo o leão que sempre cavalguei? Onde ficaram nosso urros conjuntos de coragem? Passei a temer mais o que a tampouco me parecia inofensivo? Medo, uma força que as vezes me impede de ir além... embora prefira o imperfeito e o inacabado.

Lembrando-me deste mesmo dia que insiste em se repetir como um deja-vu, esqueci que o destino sempre me quis só, no deserto sem saudade, sem remorso só, sem amarras, barco embriagado ao mar. Não sei o que em mim só quer me lembrar que um dia o céu reuniu-se à terra. Um instante por nós dois?

Sigo passeando pelo escuro e prestando muita atenção no que ouço, querendo chegar antes pra prenunciar o estar de cada coisa e volto a questão na métrica e rima e nunca dor. Sigo divertindo as pessoas e chorando ao telefone. Enfim, vendo tudo enquadrado...

Ando pelo mundo e meus amigos, cadê? Alegria e cansaço. E ninguém em casa pra conversar. Sigo no questionamento do “what a difference a day made?” e chego a conclusão de que “the difference is you – all my friends and family”. Afinal de contas depois de experimentar amores descabidos e despretenciosos e simplesmente incondicionais destes que considero meus poucos amigos e família, pra que saber que horas são?

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ré confessa



Hoje entrei no msn e la estava: ON LINE! Ultrajante!

Esse On LINE me causava um vendaval de sentimentos. Seriam demasiadas as palavras para descrever a cadencia flutuante desse movimento entrecortado. Muda de tela, checa isso, checa aquilo, checa qq outra coisa, e de novo, e de novo... num ziguezague impertinente voltei p tela do msn e nada... nenhuma caixinha de dialogo aberta. Ultrajante!

Lembrei de Clarisse Lispector: "Por te falar eu te assustarei e te perderei? Mas se eu nao te falar me perderei e por me perder eu te perderia".

Existem fatos que geram impulsos e especificamente este impulso me causou paralisia de modo tao sutil que implicava em culpa. Culpa que nao se sabe da onde vem nem onde vai dar, nao se sabe nem o motivo. Estranha vontade de pedir perdao. Perdao pelo que fiz, pelo que nao fiz e ate pelo que faria... ou nao...

Insistencia eh um caminho chato! Paro e pondero: passividade eh um caminho burro!

Sem saber dos desejos aonde iam dar, enfrentei a saudade, contive bravamente o impeto da falta e confesso! Confesso que a imobolidade doeu mais que um movimento abrupto. Se realizasse o ato banal vestiria novamente os fantasmas. Aquilo nao me pertencia mais. As atencoes nao eram mais pra mim, os habitos nao eram mais meus, nao tinha mais obrigacao com o passado.

Esperei mais um pouco a telinha piscar. Nada aconteceu. Ultraje! Sequei o rosto com os proprios punhos e fui... sem grilos de mim, sem desespero, sem tedio e sem fim.

Fiquei indignadamente OFF LINE!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Bruta flor

E depois de dias e mais dias de noticias um tanto quando fora do script e bem desagradaveis , enfim um bom momento, daqueles que ficarao na memoria simplesmente pela simplicidade do desenrrolar das coisas de do sorrisao que consegui abrir no final. (depois de passar um final de semana inteiro chorando na areia olhando pro mar e quase virando picole na praia de tanto frio! inverno escroto!!!! pareco um fio de cabelo num emaranhado de nos!)


Trancada no escritorio com zilhoes de coisas por fazer e pra fazer, hoje tava com cara de mais um dia almocando mc donalds (ui! credo!) e de repente lembrei do Stoner (nomezinho apropriado!!!). E nao eh que calhou de justo hoje ele tb nao ter compromisso pro almoco! E calhou ainda mais dele estar trabalhando no predio do meu novo escritorio! ... coincidencias nao existem!!! ja diria minha velha vozinha!!! Embora ele tivesse arrancado os quatro cisos na ultima sexta, ele topou! pq time eh time!!!


- E ae? colé? simbora p onde?

- humm... tem um pe duro em Cabeçudas com uma vista maravilhosa, topas?

- To dentro... sem grana mesmo! simbora!


Almoco em Cabeçudas, dia lindo, cia agradavel, marzao de fundo, briza gelida, lugarzinho bem simples e comidinha caseira. (tinha uma sem nocao de bikini no meio da areia tomando sol... e eu entupida de roupas e morrendo de frio... aiaiai sai do nordeste mas o nordeste nao saiu de mim! ... suspiros) Nesse momento nada me faria mais feliz. Alias, sou da teoria de que restaurantes refinados e com TVs soh servem pra compensar a falta de assunto e isso me da calafrios. Vc espia, nao curte a programacao e continua mastigando... nada mais deprimente!


E foi assim, comecamos a conversar pra atualizar os acontecimentos, colocar os papos em dia, nenhum assunto pre aprovado pra pauta, cada uma contou dos seus amores, trabalho, projetos futuros... Ele terminou, mas volta (e eu faco campanha pra isso!), eu to tentando comecar com muita vontade e distancia, tentando administrar a vida de Fortaleza e a de Itajai e a de Salvador e, e, e...


Ainda no assunto de amores, chegamos a conclusao de que somos duas pessoas com problemas! Sim, daquelas meio retardadas, que por vezes tem a pessoa certa na mao e nao sabe o que fazer, ou apenas nao consegue administrar por falta de tempo ou longas distancias. Preciso abrir uma aspas pra dizer que a falta de atencao no cotidiano doi mais que a traicao velada ou publica!!! (muitas exclamacoes!!!!!!!!!) Isso foi uma de nossas conclusoes do que posso chamar de "a hora mais produtiva e agradavel dos ultimos dias". Concluimos ainda que as pessoas se separam pra depois dicutir e nao mais discutem pra depois separar... senti que nao tenho mais o fermento da noite embora esteja aberta pro convivio. Isn`t it ironic? It`s like a free ride when u already take...


Lembro-me de uma conversa que ouvi na mesa ao lado: "voce tem que aprender a ser irocica! - pra que? - pra se proteger do mundo..."


Dia desses li uma materia sobre a cabala que diz que almas gemeas nao existem, melhor mesmo eh chamar de `parceiros da alma`, dizia ainda que as pessoas tem que merecer encontar esses soulmates. Sera que eu mereco? Sera que estou preparada? Pq merecendo ou nao, preparada ou nao, ja encontrei umas tantas soulmates por ai... o Pablo, a Xuxu, o Xuxu, a Beta, a Lu, a Kaka, a Nath, o Colaço, o Nando, atualmente o Felipe e ate o Sal (pasmem!). Acho que as pessoas seriam mais felizes se apenas vivessem e entendessem que nao existem pessoa certa pra vida inteira, existe a pessoa certa naquela hora, ou o momento certo com a pessoa que bate na trave, mas pq nao tentar? Hj penso que minha atual soulmate esta em Salvador, pq nao? pq haveria de ser meu vizinho? se nao fosse dificil nao tinha graca... mas eu ja falei que tinha problemas!!! Ironic!!! Definetely!!!


Surgiu a pergunta: "o que faz vc feliz?" (sim! eh a propaganda do pao de acucar!) e comecou-se desembestadamente a filosofar a respeito do `SE`!


Eu deveria saber, pelo menos se considerar o fato de que toda mulher eh experiente em testes, daqueles de revistas, jornais, sites... passamos a vida nos definindo por pontuacoes! Sou conservadora! Sou arrojada! Sou sexy!Sou isso e aquilo... bulshit! forget about it! it doesnt fucking matter!


Passei a vida inteira tendo a certeza de onde queria chegar, tracando planos e metas, definindo targets e deadlines... pra que? Sempre corri demais!!! Atras do onibus, do melhor emprego, do melhor salario, do namorado mais bonito, daquela bolsa da moda... pra que? alguem me diz qual eh a graca de ja saber o fim da estrada quando se parte rumo ao nada!!!


Lembramos juntos de um amigo, que quem sabe, pode ser um forte candidato a meu soulmate no futuro. Gustavo Godoy! Uma pessoa incomparavel e fenomenal, que sempre viveu no seu ritimo, sem se comparar a ninguem, sem achar que era mais ou menos, que estava na frente ou atras... e chegou as 28 com duas calcas jeans e meia duzia de Tshirts sem muita ambicao, ate que decidiu que era hora de ter mais responsabilidades e entrou pra faculdade de medicina, por sinal, uma das melhores dos EUA. E por que nao? Por que nao viver a vida no seu ritimo e que se explodam os outros? pq temos a obrigacao de ser jovens felizes e realizados? To com medo dos 30!!! Talvez o melhor mesmo seja nao se importar com a grama do jardim alheio, pq a grama do vizinho sempre vai parecer mais verde. acho mesmo que o bom seria voar! Ai que saudade do Gustavo! Por um momento me arrependo de ter jogado p cima... ahhhhhrrrrrr!!! mas acabo concluindo que nao era a hora.


Mudei minha vida inteira pro Sul. Deixei familia, amigo e amor pra tras na busca de realizacao profissional pq sempre foi isso que eu tracei como meta principal pra minha vida. E nao digo que me arrependo, de forma alguma, estou feliz aqui, embora ainda nao consiga lidar direito com a saudade. Conquistei o que me propus a conquistar e no tempo que eu estimei! Mas e dai?


O que me faz feliz? e se... e se... e se...


Essa semana recebi a noticia de que meu pai esta com cancer e sinceramente, em tempo algum, uma noticia me afetou tanto. Esse cancer nao estava nos meus planos! E como a vida ousava sair no caminho que eu tracei??? como????? impotente! foi exatamente assim que me senti! lagrimas pra que? lagrimas nao curam! senti um vazio imenso e comecei a me questionar sobre os efeitos das minhas decisoes. Comecei a me sentir Leblon quando na verdade queria ser Pernambuco.


Talvez eu nunca chegue a ser o que eu quero ser, mas nao eh tempo de chorar, eh tempo de se perguntar porque. Tive a sensacao de ser um canto quanto precisaria ser um mundo inteiro e a certeza de que nao sou a muralha que imaginava. Ate pouco tempo me definia em metrica e rima, e nunca dor. Mas a vida eh real e de vies e ve soh que cilada me armou, hoje penso que talvez esteja perdendo os ultimos anos de convivencia com meu pai. e pra que? pra me tornar uma executiva de sucesso? pra que? pra que? Acho que estou sendo rock`nroll quando deveria ser romance e quaresma quando deveria ser fevereiro.


E se? E se eu pudasse mudar o mundo? Escolheria primeiro encontrar a cura do cancer! Escolheria tambem tornar meu pai infinito e imortal. escolheria poder ve-lo todos os dias, almocar juntos, ganhar meu beijo de boa noite. Falo todo dia com ele, mesmo que por telefone e nao perco por motivo algum a chance de dizer que o amo... mas infelizmente isso nao tem sido suficiente pra mim. Gostaria de fazer parte do presente da minha familia estando realmente presente pq sei que a ausencia eh um vacuo que nao poderei apagar nem preencher no futuro. e que futuro? quanto tempo temos de futuro? nao me sinto preparada pra essa ausencia.


Me sinto realmente como uma bruta flor do querer, queria estar la e ca, queria poder ir as consultas, poder acompanhar o desenrrolar das coisas, fazer perguntas pros medicos, checar as credenciais, entender melhor as possibilidades... E tenho saudades. Saudades de ficar na sala vendo o futebol no domingo, de tomar aquela cerveja gelada no almoco ao lado da familia, do carinho que eu costumava receber diariamente, dos beijos e abracos, do convivio com meu irmao metralha, das brigas p usar o carro do pai, da cara lisa p dizer q ralei a lateral do carro inteira na coluna do predio pq cheguei meio bebada e a garagem diminuiu... sinto saudade de nao fazer nada com eles e tenho a sensacao de que esses momentos se tornam cada vez mais distantes e espacados e muito raros.


Gostaria de pensar como Chico quando diz: "nao se afobe nao que nada eh pra ja, o amor nao tem pressa ele pode esperar em silencio, num fundo de armario, milenios, milenios no ar..." mas nao pretendo terminar como o fim do refrao conjecturando que "futuros amantes quica se amarao sem saber com o amor que eu um dia deixei pra voce"... Nao quero deixar amor pra ninguem, quero vive-lo intensamente e de todas as formas. Mesmo que em ponte aerea, mesmo que dormindo em aeroportos, mesmo que dividindo meu amor em destinos diferentes, fortaleza, belem, salvador, recife... nao consigo mais esperar pra dizer amanha que amo alguem hoje...


Ontem mesmo liguei pro Xuxu bem tarde soh pra dizer que se nada der certo, faremos um casal de tres (eu, o xuxu e a xuxu) e teremos dois filhos, um branquinho que nem ela e outro neguinho que nem eu, eles surfarao juntos, serao melhores amigos, faremos viagens em familia, teremos um furgao e moraremos na praia. nao perto da areia pq a xuxu nao gosta nem de areia nem de sol. Rimos um monte e ate a febre dele baixou. Liguei tb pra xuxu soh p dizer q a amava e repetir a mesma historia (ja falei que tenho problemas psicologicos incuraveis! e quem disse que quero me curar? risos)


Continuamos com nossos 'e se..' e se eu tivesse mais tempo pra isso e aquilo? sera mesmo que faria diferente? Sera mesmo que me tornaria paixao ao inves de dinheiro? Sera mesmo que me tornaria lua quando deveria ser sol? Sei que estou virando descanso e deixando de ser apenas desejo e inquietacao. Comeco a me livrar do meu glaucoma pisicologico e da minha miopia cerebral e ver a vida mais cristalina, de um outro angulo, num outro ritimo. Comeco a apreciar coisas pequenas, que na verdade sao grandes e que outrora nao creditara o devido valor. O universo cabe mesmo numa casca de noz. As coisas podem sim ser dulcissimas!


Pagamos a conta! Na verdade ele pagou, pq to muito sem grana mesmo! Fiz nem cerimonia! Em outros tempos ate faria... - Pague ai, por favor! E aproveite e colabore com a minha caixinha de Natal!!! hehehehehe


Voltamos pro tabalho por aquela estrada curva e linda, apreciando todas as nuances do caminho, cheios de `SEs`, cada um com seus problemas. Ele subiu de escada e eu esperei o elevador... tinha comido demais pra acompanha-lo em tamanho esforco...


Moral da historia: "quem planta SE colhe quase"... =/

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sujeito e predicado

Quando eu tinha 8 anos tudo o que queria era fazer logo 10: andar sozinha no elevador, sentar no banco da frente do carro, fazer meu proprio brigadeiro. Aos 13, bonecas de lado, sonhava em viajar pelo mundo e ter 18: dirigir seria o suprassumo da existencia, sem falar na perspectiva dos amores. Mas com 20, dirigindo, cozinhando, limpando e com muitas contas atreladas, espero os 30 pra nao ter a obrigacao de ser tao jovem e feliz.

Hoje, aos 26, quase 27, longe das angustias dos 18/ 20, ja sabendo um pouco quem sou, sonho me desocupar. Chegar aos 40 livre do que nao me serve mais. Ficar mais inteligente e menos seria, nao necessariamente nessa ordem. Saber dizer nao pra que o sim seja verdade.

Porque, as vezes, ainda me pego agindo como meus pais. "Voce eh brava como sua mae", dizia meu avo. Crescemos com estigmas que colam em nossa pele como se compusessem nosso DNA. Na hora de educar meus filhos, meu corpo certamente sera tomado por frases que sempre abominei na formacao que recebi. Acho que preciso respirar pra poder me ouvir, tantas sao as referencias que moram em mim.

Mas como a essa altura ja tenho uma historinha de respeito, comeco a perceber se o que herdei eh o que eu quero deixar. Tambem me pergunto se o mundo que me oferecem merece a minha cumplicidade. Porque nao me comovo com o que faz sucesso, nao acredito em culpa e nao escondo do meu namorado quando acho um rapaz bonitinho?

Nao sei se o que penso esta certo ou errado. Nem sei se vou pensar assim no ano que vem. Mas tenho tentado acreditar que, entre vestidos e batons, existe alguem que pode fazer tudo diferente. Outro dia li que um fisico russo passou dez anos resolvendo um problema de matematica. Por que nao?

Eh claro que nossa infancia vai nos acompanhar para sempre, e saber que alguem se orgulha de voce eh uma delicia. Mas pra mim foi importante me liberar de uma galera. Nao sou fina e diplomatica como meu pai gostaria, nem culta como meu irmao imaginou, muito menos a genia que minha mae previu. Mas jogo meu futebol e agradeco enternecida as investidas que recebi.

Preciso ser justa e dizer que nem tudo eh culpa dos meus pais (que, alias, serao vingados pelos meus filhos, que, se tudo der certo, me acusaram de coisas terriveis quando tiverem 18). Fui tambem influenciada por amigos, livros e ate novelas. Sem falar nos gurus: Raul Seixas que me ensinou a amar a floresta, Nelson Rodrigues que me mostrou a realidade crua de situacoes cotidianas, Rubem Braga que abriu meus olhos para as coisas pequenas que na verdade sao grandes, e Machado de Assis que apurou meu humor num grau que acho que ele exagerou.

Hoje em dia, vou atras do Arnaldo Antunes e Caetano Veloso como se fosse crianca. Quando ainda nao sei o que pensar sobre determinado assunto, vou na deles. Sem falar nas frases que anoto na agenda desde os 8.

Picasso dizia que eh preciso ter muito tempo para se tornar jovem. Eu, por exemplo, decidi que agora visitarei Macchu Pichu, dancarei mais nas festinhas, usarei aquela sombra laranja que comprei no ano passado. E desconfio que, a medida que for me ocupando, corro o risco de ficar cada vez mais parecida com minha familia. Com a proximidade que soh a distancia eh capaz de permitir.

No momento, soh posso dizer que gastarei mais tempo na ponte aerea Navegantes/ Salvador. Se vai durar? Nao sei. Quem sabe? Nao me conte! Prefiro descobrir... indo atras do Ile!



segunda-feira, 12 de julho de 2010

Amizade sincera


pro meu Xuxu...
Não é que fôssemos amigos de longa data. Conhecemo-nos apenas na época da faculdade. Desde esse momento estávamos juntos a qualquer hora, mesmo que apenas em pensamento. Há tanto tempo precisávamos de um amigo que nada havia que não confiássemos um ao outro. Um amigo que não haveria de nos julgar e nem tão pouco seria complacente com nossas faltas de virtudes. Chegamos a um ponto de amizade que não podíamos mais guardar um pensamento: um telefonava logo ao outro, marcando encontro imediato. Depois da conversa, sentíamo-nos tão contentes como se nos tivéssemos presenteado a nós mesmos. Esse estado de comunicação contínua chegou a tal exaltação que, no dia em que nada tínhamos a nos confiar, procurávamos com alguma aflição um assunto. Só que o assunto havia de ser grave, pois em qualquer um não caberia a veemência de uma sinceridade pela primeira vez experimentada.

Já nesse tempo apareceram os primeiros sinais de perturbação entre nós. Às vezes um telefonava, encontrávamo-nos, e nada tínhamos a nos dizer. Podia ser um cinema, um almoço, uma corrida na beira-mar, tomar um suco ou uma água de côco, ou apenas passar horas a fio lendo vários livros numa livraria qualquer e nos encontrando em tantos personagens. Éramos muito jovens e não sabíamos ficar calados. De início, quando começou a faltar assunto, tentamos comentar as pessoas. Mas bem sabíamos que já estávamos adulterando o núcleo da amizade. Tentar falar sobre nossos mútuos romances também estava fora de cogitação, ninguém queria falar de seus amores e aventuras nesse núcleo, poderia soar ultrajante, tal era o nosso ciúme mútuo. Experimentávamos ficar calados — mas tornávamo-nos inquietos logo depois de nos separarmos.

Minha solidão, na volta de tais encontros, era grande e árida. Cheguei a ler livros apenas para poder falar deles. Cheguei até a ler todos aqueles livros de auto-ajuda que me eram indicados por você, tão insuportáveis para a minha mente auto-suficiente quanto aquelas aulas de trigonometria. Mas uma amizade sincera queria a sinceridade mais pura. À procura desta, eu começava a me sentir vazio. Nossos encontros eram cada vez mais decepcionantes. Minha sincera pobreza revelava-se aos poucos. Também ele, eu sabia, chegara ao impasse de si mesmo.

Foi quando, tendo sido transferida a trabalho vim morar em Santa Catarina, e eles seguiram morando em Fortaleza e sendo assim, passamos longos dias sem nos ver. Que rebuliço de alma. Radiante, pensava em como seria quando viessem me visitar e fazia planos e mais planos. Arrumava nossos livros e discos, preparava um ambiente perfeito para a amizade. Depois de tudo pronto — eis-me dentro de casa, de braços abanando, muda, cheia apenas de amizade.

Começamos nos ligando sempre, falavamos muito mas todos os problemas já tinham sido tocados, todas as possibilidades estudadas. Tínhamos apenas essa coisa que havíamos procurado sedentos até então e enfim encontrado: uma amizade sincera. Com o tempo as chamadas diminuiram, mas em tempo algum deixei de senti-los presente. Como que por telepatia, meu telefone sempre tocou nos momentos em que mais precisava falar com alguém e sempre com aquela voz meiga e cheia de alegria e paz me dizendo: “Bom dia, Xuxu! Amooor... saudade de tu!” e por ai iamos horas a fio, sem perceber que o movimento da rua diminnuira ou que o sol se punha lentamente.
Mas como se nos revelava sintética a amizade. Como se quiséssemos espalhar em longo discurso um truísmo que uma palavra esgotaria. Nossa amizade era tão insolúvel como a soma de dois números: inútil querer desenvolver para mais de um momento a certeza de que dois e três são cinco.

Tentamos organizar algumas farra, mas não só a distância nos impediu como os raros momentos livres que tinha nas minhas idas e vindas a Fortaleza não eram suficientes o bastante e não adiantou.

Se ao menos pudéssemos prestar favores um ao outro. Mas nem havia oportunidade, nem acreditávamos em provas de uma amizade que delas não precisava. O mais que podíamos fazer era o que fazíamos: saber que éramos amigos. O que não bastava para encher os dias, sobretudo os longos meses de distância.

Data dessas viagens o começo da verdadeira aflição.

Desde um acidente de carro inesperado, a angústica de não ter alguém do lado pra conduzir-me a um hospital, a angústia ainda maoir de não poder e nem quer contar a ninguém para que não houvesse nenhum tipo de preocupação comigo. Afinal de contas eu escolhera a distância, a escolha do ostracismo fora totalmente minha e meu orgulho não me permitiria voltar atrás. Além disso, não seria justo clamar por ajuda sempre que houvesse um imprevisto. E foram dias assim, sem muito movimento para não terminar de quebrar as costelas, muita sonolência devido a remédios pra dor, casa acumulando sujeira e lágrimas de uma solidão profunda.

Mesmo assim, sem saber como e nem porque, meu celular tocou e ao fundo, aquela velha voz de sempre que tinha o dom de apaziguar todas as minhas inseguranças e angústias. Aquela e sempre aquela voz que me devolvia a paz, tamanho o otimismo cotidiano que mal nenhum deixava abater.

E foi assim por toda a minha recuperação. Foi apenas essa a voz que eu ouvi todos os dias, perguntando como eu estava, sondando e torcendo pela minha melhora, ligando na hora em que eu deveria tomar os remédios pra ter certeza de que eu não ia esquecer de fazê-lo. Me cobrando acompanhamento médico e se colocando a disposição para qualquer coisa. Embora não pudesse tê-lo ao meu lado, sua atenção me confortava. Esperei essa atenção de outras pessoas mais próximas que teoricamente deveriam estar ao meu lado. Devaneio! Amizades sinceras não vêm aos quilos.

É verdade que houve uma pausa no curso das coisas, uma trégua que nos deu mais esperanças do que em realidade caberia. Foi quando eu tive uma questão com a saúde do meu pai. Não é que fosse tão grave, mas nós a tornamos para melhor usá-la. Porque então já tínhamos caído na facilidade de prestar favores. Andou entusiasmado pelos consultórios médicos de conhecidos de família, arranjando consultas e exames para meu pai. E quando começou a fase de tentar adiantar as datas, correu por toda a cidade — posso dizer em consciência que não houve consulta que fosse marcada nem exame que fosse feito sem que fosse através de sua mão.

Nessa época falavamo-nos de noite, exaustos e animados: contávamos as façanhas do dia, planejávamos os ataques seguintes. Não aprofundávamos muito o que estava sucedendo, bastava que tudo isso tivesse o cunho da amizade. Pensei compreender por que os noivos se presenteiam, por que o marido faz questão de dar conforto à esposa, e esta prepara-lhe afanada o alimento, por que a mãe exagera nos cuidados ao filho.

Encerrada a questão com os médicos e clínicas — seja dito de passagem, com vitória nossa — continuamos um ao lado do outro, sem encontrar aquela palavra que cederia a alma. Cederia a alma? Mas afinal de contas quem queria ceder a alma? Ora essa.

Afinal o que queríamos? Nada. Estávamos fatigados, desiludidos.

Sabiamos que a vida seguiria seu curso e que mesmo assim, nos lembrariamos um do outro nos versos de Clarisse, nas poesias de Vinicius e nos mais estonteantes pôr-do-sol. Sabíamos que independente do quão distantes estivessemos, sempre teriamos um tempinho de sentar na areia, olhar pro mar e ouvir as ondas tendo a certeza de que nunca nos esqueceriamos.

A pretexto de viagens a trabalho, separamo-nos. Um aperto de mão comovido foi o nosso adeus naquele domingo. Sabíamos que não nos veríamos mais, senão por acaso e com pouca frequência. E sabíamos também que éramos amigos. Amigos sinceros. E que seria pra sempre assim: sem cobranças nem medições, apenas amigos sinceros.