organizando os ingredientes
Este blog é escrito por Roberta Dutra. Nasci em Belém do Pará e passei maior parte da vida no Ceará, me mudei algumas vezes, viajei pelo mundo outras tantas e atualmente moro em Santa Catarina. Cresci em família grande, com muitos primos, primas, tios, tias e mais uns tantos agregados das mais variadas espécies. Tive uma infância plena e feliz e hoje, embora seguindo feliz, sofro muito de saudade. Registro aqui algumas impressões peculiares sobre a vida e seus desdobramentos, sobre o cotidiano e alguns tantos textos escritos para algumas pessoas em particular que exerceram e ainda exercem grande influência na minha vida, além de fazerem parte das minhas melhores lembranças, é claro! Não tenho grandes pretenções literárias, gramaticais nem sequer ortográficas, mas escrevo com muito amor, que é o que todo mundo precisa. Resumindo, mantenho o blog como meio de comunicação entre amigos e famíla distante e possíveis interessados. Entre e fique a vontade...
be my guest!
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Prece irlandesa
Moscou
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
insight de bêbo
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Cachos familiares
- Como vai a vida, Roberta? (se me chamou de Roberta, eh pq vem chumbo grosso!)
- Vai bem! Respondo eu, com tom neutro de quem nao esta muito afim de conversa e dando-lhe o beijo de todas as noites naquela cabeca grisalha.
- E o trabalho? Vai tudo bem? Tudo em ordem?
- Tudo na santa paz! (ainda resistindo a uma conversa mesmo notando seu interesse na minha rotina).
- Cansada, minha atleta?
- Muito! Hoje corri alguns kms na areia, malhei pra caramba, tive um dia cheio, visitei clientes distantes e mal humorados, respondi a trocentos emails e milhares de chamadas e nao tive tempo nem pra lavar os cabelos… suspiro.
E a conversa finalmente comeca, sem muito assunto, apenas para estabelecer uma comunicacao diaria.
- O que esta passando? Pergunto olhando para a TV.
- Jornal… eu soh assisto jornal!
- E TV senado! Risos!
- Eh! Tb! Senta ai e toma esse uisque devagar, menina! Isso nao eh leite nao!
- Foi mal! Tive um dia estressante! Coloca outra dose ai, por favor!
- Coloco, mas vou diluir na agua de coco! Vc ta bebendo muito!
As doses de uisque seguem a medida que eu espero pra ver os ultimos capitulos da minha novela favorita e a Fatima Bernardes da as noticias do dia: Crise no Senado!
- Sera que Sarney sai ou nao sai? Como diria Boris, o Casoi: “Isso eh uma vergonha!”
- Esse pais esta virando um puteiro sem ordem! E o maior problema eh que os putos estao no comando e os cafetoes obedecendo ou apenas figurando! Ate um puteiro precisa de ordem e um pouco de decencia! Todos precisam de hierarquia e toda hierarquia precisa de uma logica pra existir e de pessoas aptas a comandar e outras a obedecer. Democracia eh sempre bem vinda, mas nao pode ser confundida com desordem! …
Prevendo que a conversa seria longa, mesmo depois de passados 40 minutos confabulando sobre o mesmo assundo, senti que precisaria de mais uma dose, jah que o assunto era tenso e jah havia transitado, ainda que sem muito nexo, por outros tantos temas pungentes e delicados.
Chega a vez de Willian Boner dar sua noticia: “Bispo Edir Marcedo, um dos fundadores da Igreja Universal, eh investigado por desvio de doacoes de fieis para fins pessoais”… e lah vai mais um assunto conflituoso entre alguns pedacos de palmito picado, assertivas eloquentes e mais alguns gestos persuasivos.
OK! Percebi que essa conversa, outrora nao quista, seria infinda. Afinal de contas, o que poderia ser melhor do que sentar com seu pai no sofa - depois de um longo dia fatigante -, pra discutir a ordem dos planetas e confabular sobre a conspiracao do universo? E ainda, com palavras acompanhadas por uma deliciosa porcao de palmito (nosso tira-gosto preferido) e por aquela apetitosa garrafa de uisque, que secariamos nem tao delicadamente, e que ele passaria o resto da vida me cobrando (jah que a culpa de secar o bar sempre eh minha) e eu fazendo oudido-de-mercador.
Eis que o jornal e o capitulo imperdivel da novela acabam sem que nem ao menos eu me desse conta do tempo que passava. Entre um drink, umas gargalhadas e assuntos aleatorios, percebo que jah estamos assistindo, ou supondo assistir, o programa do Jo. E lah se vai mais uma madrugada agradavel na companhia do meu velhinho.
Falamos sobre tudo: historia da arte, antiga Babilonia, reinado de Marco Tulio, Alexandre – o Grande (nunca sei porque cargas d’agua esse assunto nem tao relevante sempre aparece nas nossas conversas), cinema moderno (e jah combinamos de assistir o filme do Waldick Soriano juntos, sempre eh bom colocar logo na agenda…), novidades lieterarias, proximas exposicoes, circuito cultural da cidade… quando de repente e sem saber porque, a conversa toma um rumo inesperado (ou nao, dependendo da optica de cada participante). Assunto da vez: a vida pessoal de Roberta Dutra!
Jah comecei a me tremer dai! Embora o trato com as palavras fossem obvios para nao ultrapassar os limites do meu bom humor, vi que o assunto ainda ia render um bocado e decidi… desce a garrafa que a noite vai ser longa!
Entre varios elogios - jah que a melhor tecnica para se fazer uma critica e nao ser mal interpretado eh sempre comecar e terminar o raciocinio com elogios (adoro tecnicas de neurolinguistica!) -, sai a pergunta que nao queria calar: Como andam os namorados… os paqueras?
- Agora eu gostaria de um duplo e sem gelo! Por favor!
Eu sempre me pergunto porque ele usa sempre o plural pra fazer essa pergunta… eh quase uma injustica! Ok, vamos dar a Cezar o que eh de Cezar: eu quase nunca estou soh, mais eh sempre um paquera de cada vez, ainda que nem sempre haja um intervalo muito grande entre os capitulos da minha historia amorosa. Eu sempre fui uma crianca hiperativa, pasmem! Risos.
Posto isso e esclarecido este pequeno detalhe que poderia gerar algum mal entendido, sigo desconfortavel com o rumo da conversa.
- Ta tudo tranquilo! Acho essa uma otima resposta. Eh suficientemente vaga para nao me comprometer e tambem suficientemente incerta pra fazer a segunda pessoa acreditar que tranquilo eh sinonimo de: sem acompanhantes no momento. Embora essa assertiva nao seja lah muito crivel. Mas qual o problema de procurar um amor de vez em quando? Ficando em casa e vendo altas-horas eh que eu nao vou achar. Afinal de contas, o que eu vou contra pros meus netos? Que fiquei em casa jogando domino? No way! Sou uma pessoa de multidoes. E o dialogo segue com diversas pausas. Ate porque, como explicar pra um pai, que sua filha sequer tem planos de um dia distante entrar numa igreja vestida de branco ao lado dele? Como explicar que sua unica filhinha, nada delicada – diga-se de passagem, nao acredita na instituicao chamada: casamento. Como explicar que a ideia de simplesmente dedicar os melhores anos da minha juventude para uma unica pessoa me assusta terrivelmente? Comeco a ficar tensa enquanto ele pergunta…
- Ta namorando?
- Nao. To enrrolada.
- E porque nao dormiu em casa nos ultimos fins de semana?
- Ah… tava na Ju, na Carlinha, na Nath, na Larys… por ai…
- Como assim, por ai?
- Assim! Ora bolas! (Paciencia eh um dom que eu nao tenho.)
- Ha?
- Painho, todo mundo mora em cantos diferentes da cidade e a cidade esta perigosa, eh melhor sair em no maximo dois carros. Quem quiser voltar das festas cedo volta e quem nao quiser espera a segunda remessa p voltar p casa, jah com o dia amanhecendo.
- Hum, hum… e a tua remessa eh sempre a segunda?
- Certamente!
- Entao jah que amanheceu, porque vc nao volta pra casa e dorme na sua cama ate a hora que vc quiser? Nos nunca te acordamos e tentamos fazer silencio pra nao te incomodar e ate levamos agua pra vc sempre q vc grita: gelagua! Eu quero um gelaqua no meu quarto!!! (eu sei, eh o cumulo da cara de pau!)
Tentei justificar minha ausencia de varias maneiras, algumas justivicativas plausiveis, outras nem tanto…
Nesse momento, senti um aperto no coracao. Meu pai, tal como eu, que nunca teve lah muito talento pra falar de sentimentos, estava tentando me mostrar o quanto eu estava ausente e que, principalmente, sentia a minha falta. Do jeito dele, ele me fez perceber que nao estava passando tempo o suficiente em casa, com a minha familia, e daquele jeito zen e quase transcedental, que lhe eh peculiar, me fez ver que curtir a juventude eh muito bom, mas que nem tudo que hoje julgamos essencial vai me trazer resultados positivos num futuro proximo. Essas palavras, vindas desse boemio nato, nao podiam ser desconsideradas.
De repente me vi tao parecida com ele, justo com ele, que tantas vezes julguei a pessoa mais diferente de mim. Nesse momento, tudo se parecia comigo. Aquele sorriso beirando o sarcasmo, a suavidade da voz e a sua calma (nao que eu seja suave nem calma), as feicoes serenas. Sera que um dia conseguirei esse nivel de maturidade? Ele fez-se perceber e entender.
Na transparencia e brandura de suas frases, elucidou o que horas de gritos da minha mae nunca havia conseguido: Chegava a hora d’eu amadurecer. Que tal comecar a pensar em assumir algum relacionamento? Ou pelo menos comecar a adimitir a ideia de que precisaria de alguem do meu lado no dia em que meus pais me faltassem.
Whatever, essas sao cenas de um proximo capitulo, prefiro deixar essa maturidade pro ano que vem. 2010, numero par, cabalistico, sempre bom pra comecar alguma coisa…
E a conversa acaba as 3 da manha, em plena quarta-feira, com sorrisos serenos e eh claro: ao som de Raul! Nao sei se essa musica, tao apropriada e tao retorica pro momento, se fez adequada de mim para ele ou dele para mim.
Soh sei que dormimos no sofa, e acordamos meia hora depois, com os gritos do vizinho avisando que chamaria a policia caso nao baixassemos o volume do som.
As vezes penso que talvez, morar em uma casa com um enorme jardim, fosse uma opcao melhor… mas agora mesmo, eu soh penso em dormir… afinal de contas, a garrafa acabou, o ultimo brinde jah foi feito e amanha o dia vai ser cheio.
- Vizinho, ate te chamaria pra brindar conosco, mas como a fonte jah secou… Boa noite!
Vai pro seu trabalho todo dia
Toda vez que eu sinto o paraíso
Pedro, onde você vai eu também vou
Tente me ensinar das tuas coisas
Lembro, Pedro, aqueles velhos dias
Pedro, onde você vai eu também vou
Todos os caminhos são iguais
E eu não tenho nada a te dizer
Pedro, onde você vai eu também vou
É que tudo acaba onde começou