organizando os ingredientes

Este blog é escrito por Roberta Dutra. Nasci em Belém do Pará e passei maior parte da vida no Ceará, me mudei algumas vezes, viajei pelo mundo outras tantas e atualmente moro em Santa Catarina. Cresci em família grande, com muitos primos, primas, tios, tias e mais uns tantos agregados das mais variadas espécies. Tive uma infância plena e feliz e hoje, embora seguindo feliz, sofro muito de saudade. Registro aqui algumas impressões peculiares sobre a vida e seus desdobramentos, sobre o cotidiano e alguns tantos textos escritos para algumas pessoas em particular que exerceram e ainda exercem grande influência na minha vida, além de fazerem parte das minhas melhores lembranças, é claro! Não tenho grandes pretenções literárias, gramaticais nem sequer ortográficas, mas escrevo com muito amor, que é o que todo mundo precisa. Resumindo, mantenho o blog como meio de comunicação entre amigos e famíla distante e possíveis interessados. Entre e fique a vontade...

be my guest!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ré confessa



Hoje entrei no msn e la estava: ON LINE! Ultrajante!

Esse On LINE me causava um vendaval de sentimentos. Seriam demasiadas as palavras para descrever a cadencia flutuante desse movimento entrecortado. Muda de tela, checa isso, checa aquilo, checa qq outra coisa, e de novo, e de novo... num ziguezague impertinente voltei p tela do msn e nada... nenhuma caixinha de dialogo aberta. Ultrajante!

Lembrei de Clarisse Lispector: "Por te falar eu te assustarei e te perderei? Mas se eu nao te falar me perderei e por me perder eu te perderia".

Existem fatos que geram impulsos e especificamente este impulso me causou paralisia de modo tao sutil que implicava em culpa. Culpa que nao se sabe da onde vem nem onde vai dar, nao se sabe nem o motivo. Estranha vontade de pedir perdao. Perdao pelo que fiz, pelo que nao fiz e ate pelo que faria... ou nao...

Insistencia eh um caminho chato! Paro e pondero: passividade eh um caminho burro!

Sem saber dos desejos aonde iam dar, enfrentei a saudade, contive bravamente o impeto da falta e confesso! Confesso que a imobolidade doeu mais que um movimento abrupto. Se realizasse o ato banal vestiria novamente os fantasmas. Aquilo nao me pertencia mais. As atencoes nao eram mais pra mim, os habitos nao eram mais meus, nao tinha mais obrigacao com o passado.

Esperei mais um pouco a telinha piscar. Nada aconteceu. Ultraje! Sequei o rosto com os proprios punhos e fui... sem grilos de mim, sem desespero, sem tedio e sem fim.

Fiquei indignadamente OFF LINE!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Bruta flor

E depois de dias e mais dias de noticias um tanto quando fora do script e bem desagradaveis , enfim um bom momento, daqueles que ficarao na memoria simplesmente pela simplicidade do desenrrolar das coisas de do sorrisao que consegui abrir no final. (depois de passar um final de semana inteiro chorando na areia olhando pro mar e quase virando picole na praia de tanto frio! inverno escroto!!!! pareco um fio de cabelo num emaranhado de nos!)


Trancada no escritorio com zilhoes de coisas por fazer e pra fazer, hoje tava com cara de mais um dia almocando mc donalds (ui! credo!) e de repente lembrei do Stoner (nomezinho apropriado!!!). E nao eh que calhou de justo hoje ele tb nao ter compromisso pro almoco! E calhou ainda mais dele estar trabalhando no predio do meu novo escritorio! ... coincidencias nao existem!!! ja diria minha velha vozinha!!! Embora ele tivesse arrancado os quatro cisos na ultima sexta, ele topou! pq time eh time!!!


- E ae? colé? simbora p onde?

- humm... tem um pe duro em Cabeçudas com uma vista maravilhosa, topas?

- To dentro... sem grana mesmo! simbora!


Almoco em Cabeçudas, dia lindo, cia agradavel, marzao de fundo, briza gelida, lugarzinho bem simples e comidinha caseira. (tinha uma sem nocao de bikini no meio da areia tomando sol... e eu entupida de roupas e morrendo de frio... aiaiai sai do nordeste mas o nordeste nao saiu de mim! ... suspiros) Nesse momento nada me faria mais feliz. Alias, sou da teoria de que restaurantes refinados e com TVs soh servem pra compensar a falta de assunto e isso me da calafrios. Vc espia, nao curte a programacao e continua mastigando... nada mais deprimente!


E foi assim, comecamos a conversar pra atualizar os acontecimentos, colocar os papos em dia, nenhum assunto pre aprovado pra pauta, cada uma contou dos seus amores, trabalho, projetos futuros... Ele terminou, mas volta (e eu faco campanha pra isso!), eu to tentando comecar com muita vontade e distancia, tentando administrar a vida de Fortaleza e a de Itajai e a de Salvador e, e, e...


Ainda no assunto de amores, chegamos a conclusao de que somos duas pessoas com problemas! Sim, daquelas meio retardadas, que por vezes tem a pessoa certa na mao e nao sabe o que fazer, ou apenas nao consegue administrar por falta de tempo ou longas distancias. Preciso abrir uma aspas pra dizer que a falta de atencao no cotidiano doi mais que a traicao velada ou publica!!! (muitas exclamacoes!!!!!!!!!) Isso foi uma de nossas conclusoes do que posso chamar de "a hora mais produtiva e agradavel dos ultimos dias". Concluimos ainda que as pessoas se separam pra depois dicutir e nao mais discutem pra depois separar... senti que nao tenho mais o fermento da noite embora esteja aberta pro convivio. Isn`t it ironic? It`s like a free ride when u already take...


Lembro-me de uma conversa que ouvi na mesa ao lado: "voce tem que aprender a ser irocica! - pra que? - pra se proteger do mundo..."


Dia desses li uma materia sobre a cabala que diz que almas gemeas nao existem, melhor mesmo eh chamar de `parceiros da alma`, dizia ainda que as pessoas tem que merecer encontar esses soulmates. Sera que eu mereco? Sera que estou preparada? Pq merecendo ou nao, preparada ou nao, ja encontrei umas tantas soulmates por ai... o Pablo, a Xuxu, o Xuxu, a Beta, a Lu, a Kaka, a Nath, o Colaço, o Nando, atualmente o Felipe e ate o Sal (pasmem!). Acho que as pessoas seriam mais felizes se apenas vivessem e entendessem que nao existem pessoa certa pra vida inteira, existe a pessoa certa naquela hora, ou o momento certo com a pessoa que bate na trave, mas pq nao tentar? Hj penso que minha atual soulmate esta em Salvador, pq nao? pq haveria de ser meu vizinho? se nao fosse dificil nao tinha graca... mas eu ja falei que tinha problemas!!! Ironic!!! Definetely!!!


Surgiu a pergunta: "o que faz vc feliz?" (sim! eh a propaganda do pao de acucar!) e comecou-se desembestadamente a filosofar a respeito do `SE`!


Eu deveria saber, pelo menos se considerar o fato de que toda mulher eh experiente em testes, daqueles de revistas, jornais, sites... passamos a vida nos definindo por pontuacoes! Sou conservadora! Sou arrojada! Sou sexy!Sou isso e aquilo... bulshit! forget about it! it doesnt fucking matter!


Passei a vida inteira tendo a certeza de onde queria chegar, tracando planos e metas, definindo targets e deadlines... pra que? Sempre corri demais!!! Atras do onibus, do melhor emprego, do melhor salario, do namorado mais bonito, daquela bolsa da moda... pra que? alguem me diz qual eh a graca de ja saber o fim da estrada quando se parte rumo ao nada!!!


Lembramos juntos de um amigo, que quem sabe, pode ser um forte candidato a meu soulmate no futuro. Gustavo Godoy! Uma pessoa incomparavel e fenomenal, que sempre viveu no seu ritimo, sem se comparar a ninguem, sem achar que era mais ou menos, que estava na frente ou atras... e chegou as 28 com duas calcas jeans e meia duzia de Tshirts sem muita ambicao, ate que decidiu que era hora de ter mais responsabilidades e entrou pra faculdade de medicina, por sinal, uma das melhores dos EUA. E por que nao? Por que nao viver a vida no seu ritimo e que se explodam os outros? pq temos a obrigacao de ser jovens felizes e realizados? To com medo dos 30!!! Talvez o melhor mesmo seja nao se importar com a grama do jardim alheio, pq a grama do vizinho sempre vai parecer mais verde. acho mesmo que o bom seria voar! Ai que saudade do Gustavo! Por um momento me arrependo de ter jogado p cima... ahhhhhrrrrrr!!! mas acabo concluindo que nao era a hora.


Mudei minha vida inteira pro Sul. Deixei familia, amigo e amor pra tras na busca de realizacao profissional pq sempre foi isso que eu tracei como meta principal pra minha vida. E nao digo que me arrependo, de forma alguma, estou feliz aqui, embora ainda nao consiga lidar direito com a saudade. Conquistei o que me propus a conquistar e no tempo que eu estimei! Mas e dai?


O que me faz feliz? e se... e se... e se...


Essa semana recebi a noticia de que meu pai esta com cancer e sinceramente, em tempo algum, uma noticia me afetou tanto. Esse cancer nao estava nos meus planos! E como a vida ousava sair no caminho que eu tracei??? como????? impotente! foi exatamente assim que me senti! lagrimas pra que? lagrimas nao curam! senti um vazio imenso e comecei a me questionar sobre os efeitos das minhas decisoes. Comecei a me sentir Leblon quando na verdade queria ser Pernambuco.


Talvez eu nunca chegue a ser o que eu quero ser, mas nao eh tempo de chorar, eh tempo de se perguntar porque. Tive a sensacao de ser um canto quanto precisaria ser um mundo inteiro e a certeza de que nao sou a muralha que imaginava. Ate pouco tempo me definia em metrica e rima, e nunca dor. Mas a vida eh real e de vies e ve soh que cilada me armou, hoje penso que talvez esteja perdendo os ultimos anos de convivencia com meu pai. e pra que? pra me tornar uma executiva de sucesso? pra que? pra que? Acho que estou sendo rock`nroll quando deveria ser romance e quaresma quando deveria ser fevereiro.


E se? E se eu pudasse mudar o mundo? Escolheria primeiro encontrar a cura do cancer! Escolheria tambem tornar meu pai infinito e imortal. escolheria poder ve-lo todos os dias, almocar juntos, ganhar meu beijo de boa noite. Falo todo dia com ele, mesmo que por telefone e nao perco por motivo algum a chance de dizer que o amo... mas infelizmente isso nao tem sido suficiente pra mim. Gostaria de fazer parte do presente da minha familia estando realmente presente pq sei que a ausencia eh um vacuo que nao poderei apagar nem preencher no futuro. e que futuro? quanto tempo temos de futuro? nao me sinto preparada pra essa ausencia.


Me sinto realmente como uma bruta flor do querer, queria estar la e ca, queria poder ir as consultas, poder acompanhar o desenrrolar das coisas, fazer perguntas pros medicos, checar as credenciais, entender melhor as possibilidades... E tenho saudades. Saudades de ficar na sala vendo o futebol no domingo, de tomar aquela cerveja gelada no almoco ao lado da familia, do carinho que eu costumava receber diariamente, dos beijos e abracos, do convivio com meu irmao metralha, das brigas p usar o carro do pai, da cara lisa p dizer q ralei a lateral do carro inteira na coluna do predio pq cheguei meio bebada e a garagem diminuiu... sinto saudade de nao fazer nada com eles e tenho a sensacao de que esses momentos se tornam cada vez mais distantes e espacados e muito raros.


Gostaria de pensar como Chico quando diz: "nao se afobe nao que nada eh pra ja, o amor nao tem pressa ele pode esperar em silencio, num fundo de armario, milenios, milenios no ar..." mas nao pretendo terminar como o fim do refrao conjecturando que "futuros amantes quica se amarao sem saber com o amor que eu um dia deixei pra voce"... Nao quero deixar amor pra ninguem, quero vive-lo intensamente e de todas as formas. Mesmo que em ponte aerea, mesmo que dormindo em aeroportos, mesmo que dividindo meu amor em destinos diferentes, fortaleza, belem, salvador, recife... nao consigo mais esperar pra dizer amanha que amo alguem hoje...


Ontem mesmo liguei pro Xuxu bem tarde soh pra dizer que se nada der certo, faremos um casal de tres (eu, o xuxu e a xuxu) e teremos dois filhos, um branquinho que nem ela e outro neguinho que nem eu, eles surfarao juntos, serao melhores amigos, faremos viagens em familia, teremos um furgao e moraremos na praia. nao perto da areia pq a xuxu nao gosta nem de areia nem de sol. Rimos um monte e ate a febre dele baixou. Liguei tb pra xuxu soh p dizer q a amava e repetir a mesma historia (ja falei que tenho problemas psicologicos incuraveis! e quem disse que quero me curar? risos)


Continuamos com nossos 'e se..' e se eu tivesse mais tempo pra isso e aquilo? sera mesmo que faria diferente? Sera mesmo que me tornaria paixao ao inves de dinheiro? Sera mesmo que me tornaria lua quando deveria ser sol? Sei que estou virando descanso e deixando de ser apenas desejo e inquietacao. Comeco a me livrar do meu glaucoma pisicologico e da minha miopia cerebral e ver a vida mais cristalina, de um outro angulo, num outro ritimo. Comeco a apreciar coisas pequenas, que na verdade sao grandes e que outrora nao creditara o devido valor. O universo cabe mesmo numa casca de noz. As coisas podem sim ser dulcissimas!


Pagamos a conta! Na verdade ele pagou, pq to muito sem grana mesmo! Fiz nem cerimonia! Em outros tempos ate faria... - Pague ai, por favor! E aproveite e colabore com a minha caixinha de Natal!!! hehehehehe


Voltamos pro tabalho por aquela estrada curva e linda, apreciando todas as nuances do caminho, cheios de `SEs`, cada um com seus problemas. Ele subiu de escada e eu esperei o elevador... tinha comido demais pra acompanha-lo em tamanho esforco...


Moral da historia: "quem planta SE colhe quase"... =/

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sujeito e predicado

Quando eu tinha 8 anos tudo o que queria era fazer logo 10: andar sozinha no elevador, sentar no banco da frente do carro, fazer meu proprio brigadeiro. Aos 13, bonecas de lado, sonhava em viajar pelo mundo e ter 18: dirigir seria o suprassumo da existencia, sem falar na perspectiva dos amores. Mas com 20, dirigindo, cozinhando, limpando e com muitas contas atreladas, espero os 30 pra nao ter a obrigacao de ser tao jovem e feliz.

Hoje, aos 26, quase 27, longe das angustias dos 18/ 20, ja sabendo um pouco quem sou, sonho me desocupar. Chegar aos 40 livre do que nao me serve mais. Ficar mais inteligente e menos seria, nao necessariamente nessa ordem. Saber dizer nao pra que o sim seja verdade.

Porque, as vezes, ainda me pego agindo como meus pais. "Voce eh brava como sua mae", dizia meu avo. Crescemos com estigmas que colam em nossa pele como se compusessem nosso DNA. Na hora de educar meus filhos, meu corpo certamente sera tomado por frases que sempre abominei na formacao que recebi. Acho que preciso respirar pra poder me ouvir, tantas sao as referencias que moram em mim.

Mas como a essa altura ja tenho uma historinha de respeito, comeco a perceber se o que herdei eh o que eu quero deixar. Tambem me pergunto se o mundo que me oferecem merece a minha cumplicidade. Porque nao me comovo com o que faz sucesso, nao acredito em culpa e nao escondo do meu namorado quando acho um rapaz bonitinho?

Nao sei se o que penso esta certo ou errado. Nem sei se vou pensar assim no ano que vem. Mas tenho tentado acreditar que, entre vestidos e batons, existe alguem que pode fazer tudo diferente. Outro dia li que um fisico russo passou dez anos resolvendo um problema de matematica. Por que nao?

Eh claro que nossa infancia vai nos acompanhar para sempre, e saber que alguem se orgulha de voce eh uma delicia. Mas pra mim foi importante me liberar de uma galera. Nao sou fina e diplomatica como meu pai gostaria, nem culta como meu irmao imaginou, muito menos a genia que minha mae previu. Mas jogo meu futebol e agradeco enternecida as investidas que recebi.

Preciso ser justa e dizer que nem tudo eh culpa dos meus pais (que, alias, serao vingados pelos meus filhos, que, se tudo der certo, me acusaram de coisas terriveis quando tiverem 18). Fui tambem influenciada por amigos, livros e ate novelas. Sem falar nos gurus: Raul Seixas que me ensinou a amar a floresta, Nelson Rodrigues que me mostrou a realidade crua de situacoes cotidianas, Rubem Braga que abriu meus olhos para as coisas pequenas que na verdade sao grandes, e Machado de Assis que apurou meu humor num grau que acho que ele exagerou.

Hoje em dia, vou atras do Arnaldo Antunes e Caetano Veloso como se fosse crianca. Quando ainda nao sei o que pensar sobre determinado assunto, vou na deles. Sem falar nas frases que anoto na agenda desde os 8.

Picasso dizia que eh preciso ter muito tempo para se tornar jovem. Eu, por exemplo, decidi que agora visitarei Macchu Pichu, dancarei mais nas festinhas, usarei aquela sombra laranja que comprei no ano passado. E desconfio que, a medida que for me ocupando, corro o risco de ficar cada vez mais parecida com minha familia. Com a proximidade que soh a distancia eh capaz de permitir.

No momento, soh posso dizer que gastarei mais tempo na ponte aerea Navegantes/ Salvador. Se vai durar? Nao sei. Quem sabe? Nao me conte! Prefiro descobrir... indo atras do Ile!