organizando os ingredientes

Este blog é escrito por Roberta Dutra. Nasci em Belém do Pará e passei maior parte da vida no Ceará, me mudei algumas vezes, viajei pelo mundo outras tantas e atualmente moro em Santa Catarina. Cresci em família grande, com muitos primos, primas, tios, tias e mais uns tantos agregados das mais variadas espécies. Tive uma infância plena e feliz e hoje, embora seguindo feliz, sofro muito de saudade. Registro aqui algumas impressões peculiares sobre a vida e seus desdobramentos, sobre o cotidiano e alguns tantos textos escritos para algumas pessoas em particular que exerceram e ainda exercem grande influência na minha vida, além de fazerem parte das minhas melhores lembranças, é claro! Não tenho grandes pretenções literárias, gramaticais nem sequer ortográficas, mas escrevo com muito amor, que é o que todo mundo precisa. Resumindo, mantenho o blog como meio de comunicação entre amigos e famíla distante e possíveis interessados. Entre e fique a vontade...

be my guest!

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Lua e estrela

texto escrito pra Big Cocas em 22/ago/2011

Dia desses recebi um convite muito elegante; desses pretos, capa dura, fotos ultra brilhantes e letras em dourado e vinha com meu nome completo. Era um convite pra uma feira de móveis, com as melhores marcas da região, um evento desses badalados. Entrada controlada mediante convite exibível, buffet selecionado, móveis com assinatura...

Não sei onde conseguiram meus dados, talvez tenha preenchido o perfil de vaca solteira, encalhada, insuportável e condenada a viver só e cercada de artigos de luxo na tentativa de compensar vazios psicologicos incomensuráveis. 

O fato é que eu estava alí, bem em frente ao modero de escritório 'do momento'. A vendedora insistia em me convencer do DNA verde dos materiais super nobres, da mega funcionalidade, design arrojado e devidamente provido de assinatura de luxo e um blá-blá-blá eterno que há tempos não me convencia, uma vez que os preços dos porta-retratos começavam quase na casa dos cinco dígitos (antes da vírgula!). Logo, nem ousei perguntar o valor da estante de Mogno. Possivelmente infartaria antes de sacar o talão de cheques.

Olhei, circulei pelos ambientes 'sensação' e ambientalmente corretos e voltei pro mesmo lugar, pra frente do tal escritório. Olhei a grande cadeira de couro, a mesa ampla e espaçosa, a sobriedade dos móveis e lembrei do 1301.

Lembrei da nossa mesa pequena e entulhada, da cadeira meio torta, do computador que insistia em travar e da insustentável leveza da nossa felicidade. Lembrei-me das tantas vezes que corremos pra baixo daquela mesa para chorar lamúrias e divagar sobre nossos ais. Corriamos sempre prali. Fosse pra contar moeda e constatar mais uma vez em pleno dia 10 que não chegariamos nem perto do fim do mês com dinheiro, fosse apenas pra contar as novidades e fazer planos de dominar o mundo. Muitas das vezes nos amontoavamos ali só pra tirar um cochilo depois de almoçar aquela marmita horrorosa de 4.50 brl que encaravamos dia após dia porque você tinha que alimentar o David e o Gustavo (que eu insistia em chamar de Felipe sabe-se lá Deus porque), a Loutien wet cat precisava financiar os estudos do Dubito e eu, bem, nunca fui de controlar minhas finanças e parceria nunca me faltou.

Pensei imediatamente no meu escritório atual e não pude não traçar um paralelo. Hoje, escritório bonito, colorido, arrumado e planejado e com a dadeira de couro que eu sempre quis. Àquela cadeira de 'principal' que sempre esteve nos meus planos... risos!

Indeed, hj sento numa cadeira de Boss, laptop de ultima geração e que sejamos francas, nem sei usar metade dos aplicativos, carpetão novo e sem manchas... Mas o fato é que nunca me refugiei embaixo da minha mesa atual. Lá sobra espaço e falta coração. Lá, falta você! Quisera eu ainda ter seu ombro amigo pra secar minhas lagrimas, seus ouvidos incans;aveis e seus abraços ternos. Quisera eu poder carregar meus amigos todos comigo, mas não posso. Ainda não.

Por anos aprendi a não falar o que sentia por mais que doesse ou me fizesse profundamente feliz afinal de contas, boys don't cry! por vezes, enviei discretos sinais aos amigos, que não não percebiam, me endureciam um pouco mais. Quanta bobagem!

Senti falta dos nossos choros, das gargalhadas, dos cafés na copa, das paródias, da presença de espírito do Zé Vieira, da tranquilidade do Avilanet, dos meus erros e acertos com o Franklinho, da usual boa vontade do Hannax, dos regimes do além da Wet cat e de você me ensiando a ter calma, porque tudo nessa vida tem sua hora. Senti falta do apoio e incentivo recíproco, do GCI nas horas impróprias que serviam pra quebrar o gelo, do pai babalaô e de sua eterna perseguição ao meu ser e até da 'minha tia' (mas esta última só como figurante mesmo). Foram tantos bons momentos que só lamento ter tardado a reconhecê-los como amigos verdadeiros. E lamento ainda mais por não aparecer nem ligar tanto quanto eu gostaria.

É, minha amiga Big Coconut, não mais me aperto entre mesas e cadeiras e nem preciso mais encarar aquelas marmitas com carne de monstro. Hoje, pelo contrário, sento-me em largas e confortáveis cadeiras e faço minhas refeições nos melhores retaurantes da cidade... sozinha!

Hoje, a excessão dos almoços com clientes, não tenho com quem dividir a comida 'phyna' e sofisticada. Não tenho com quem chorar embaixo da mesa e nem com quem rir na copa e falta-me tempo pro usual cohilo. Não tenho sequer alguém pra tornar o alvo das chacotas até porque teria de fazê-las as paredes. Não conto mais com a paciência de Jó da Lu me ensinando a rezar, nem com teus bons conselhos e nem o 'coaching' campeão do Tche.

Por aqui está tão frio e sequer sei dizer se faz mais frio do lado de fora da minha blusa ou se dentro do meu coração. Provavelmente competem. Mas tudo é ciclico, e por ser natureza dos ciclos passar, até lá, farei modestamente o que tem de ser feito e apanharei os pedaços que perdi em minhas andanças.

Volto em setembro por um par de dias! Espero conseguir marcar pelo menos um almoço pra tentar diminuir a saudade. Volto porque nostalgia é o que nos faz pertencer a um lugar.





quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Um homem precisa viajar

texto escrito pra minha mãe em 21/junho/2011

E ela se foi eja me sinto azás saudosa. Foram muito bons os dias juntas. Relembramos os tempos em que moravamos todos sob o mesmo teto, quando as refeições eram feitas em conjunto, todos sentados a mesma mesa e TV era proibido na hora do almoço porque era o momento de desfrutar a família, colocar a conversa em dia e compartilhar aquele sentimento de unidade que sempre nos foi tão peculiar.

Voltei a sentir falta de coisas que outrora me desagradavam. Dos beijos de bom dia as 6h da madrugada que me acordavam desnecessariamente tão cedo. Dos puxões de orelha quando andava preguiçosa. Dos esporros que tomava quando chegava em casa bebada da festa. Dela me pentelhando porque precisava sair menos e juntar grana pra comprar um apto. De todos deitados na minha cama vendo Faustão quando tudo que eu queria era me trancar no quarto, me esticar na minha cama e ler um bom livro sem escutar a voz de ninguém. De todos os domingos que fui a missa obrigada porque um homem precisa ter fé em alguma coisa. E ate da mesma pergunta que ouvia todo dia "como foi seu dia?" quando tudo que eu erroneamente julgava precisar era de um momento de silêncio e reclusão pra organizar as idéias. De onde surgia a falsa  ideia de que as outras coisas eram mais urgentes que compartilhar as impressoes sobre os meus dias com ela?

De fato, só se sente saudade do que foi bom mas ninguém pode viver de saudades. Metade do meu chão ficou naquele aeroporto quando a deixei partir sem dizer que eu sempre vou precisar de seus conselhos e atenções, ainda que eu nãos os solicite nem demonstre. Ainda que não tenha chorado, e jamais o faria na frente de quem quer que fosse por pura e ridicula blindagem, metade do meu ar ficou ali e voltei pra casa sufocada por tudo que nunca consigo falar. Nunca um dia de trabalho havia sido tão longo e nunca uma noite demorou tanto a passar. Cheirei os lençois com seu cheiro e chorei até cansar e dormir, quase vendo o dia nascer.

Quando perguntada sobre o porque de sair de casa pra ir moprar sozinha e tão distante e contabilizar incontaveis perrengues apenas consegui responder que liberdade eh pouco pra mim, preciso dominar o mundo e caminho sempre em frente ainda que não saiba onde vou. Tudo errado! Na verdade deveria ter dito que não é desapego ou falta de amor. Nunca o foi. Preciso apenas viajar com meus próprios olhos e pés pra descobrir o que é meu de fato e de mérito. E vou em frente por ser um jeito absurdamente simplista de fugir dos meus pavores e buscar o que ainda não sei, mas sinto.

Quiça retrocederia se tivesse a plena convicção de que lá seria melhor, mas não a tenho. Os bons momentos sempre seguirão comigo, as lembranças, os cheiros, os sorrisos, os sons. Todos esses grandes momentos feitos de amor e carinho são para m im recordações eternas. Ainda assim, preciso viver minhas alegrias tão intensas, minhas tristesas absolutas e esvaziar-me um pouco de meus excessos e urgencias infindas porque metades nunca foram meu forte.

Hoje entendo e enxergo claramente, ainda que a custa de muita saudade, os ensinamentos do meu Pai, quando do jeito dele, dizia e demonstava que um homem precisa romper barreiras e viajar para lugares que não conhece pra quebrar a arrogancia que nos faz ver o mundo como imaginamos e não simplesmente do jeito que é ou pode ser.

Como diria Saramago: Familia, que bom se fossem eternos, mas não são. Eles são do mundo. Pena que meu coração é deles. Suponho que não seja uma questão de entender metricamente, mas uma questão de apenas sentir. Preciso continuar conhecendo o frio para desfrutar completamente o calor e preciso ainda sentir a distância e o desabrigo e a falta do calor da minha fámilia para estar finalmente plena sob meu próprio teto.

Não Mainha, nunca foi desamor ou falta de apego, é apenas parte de uma jornada pra tentar entender as minhas urgências, plantar minhas próprias arvores e pra que eu possa dar pra voces, minha familia tão amada, o que ha de melhor em mim e ainda não consigo expressar.

Acho que era isso que queria ter dito ao inves de apenas um tchau.