organizando os ingredientes

Este blog é escrito por Roberta Dutra. Nasci em Belém do Pará e passei maior parte da vida no Ceará, me mudei algumas vezes, viajei pelo mundo outras tantas e atualmente moro em Santa Catarina. Cresci em família grande, com muitos primos, primas, tios, tias e mais uns tantos agregados das mais variadas espécies. Tive uma infância plena e feliz e hoje, embora seguindo feliz, sofro muito de saudade. Registro aqui algumas impressões peculiares sobre a vida e seus desdobramentos, sobre o cotidiano e alguns tantos textos escritos para algumas pessoas em particular que exerceram e ainda exercem grande influência na minha vida, além de fazerem parte das minhas melhores lembranças, é claro! Não tenho grandes pretenções literárias, gramaticais nem sequer ortográficas, mas escrevo com muito amor, que é o que todo mundo precisa. Resumindo, mantenho o blog como meio de comunicação entre amigos e famíla distante e possíveis interessados. Entre e fique a vontade...

be my guest!

domingo, 27 de novembro de 2011

Carta a Letícia



E a Letícia nasceu e na época não estava inspirada o suficiente pra expressar corretamente minha alegria com sua chegada. Agora, perto do Natal, ja passados alguns meses e com a cabeça tranquila e no lugar, imgina só se eu deixaria de dar as boas vindas pra minha sobrinha querida, filha de uma amiga com a qual eu tenho tantas e tantas estórias pra contar...



Bem vinda, Letícia. O mundo é bastante legal, desde que saibamos lidar com suas contradições. Tem muita beleza e muita miséria, dias lindos de sol e outros de chuva, pessoas que dizem sim, que dizem não e que não dizem nada.


Desde que saiu da barriga, você escuta votos de saúde e felicidade e, ainda que não reconheça nada além do barulho uterino, saiba que são votos clichês e cheios de sabedoria e amor, porque felicidade e saúde é tudo o que você precisará nessa vida. Em alguns momentos, você terá que se dar uma mãozinha, sendo assim, alimente-se bem, pratique esportes e não fume! Isso já será meio caminho andado, o resto é sorte. E, quanto a felicidade, o jeito é tentar fazer boas escolhas, porque, na verdade, não existe outro rumo, só existe a direção que tomamos e o que poderia ter sido já não conta.


Não posso te ensinar a fazer as tais boas escolhas e, provavelmente, nem a Kaká e nem ninguem possa, mas creio que ser integra e não se deixar levar por vaidades já é um bom começo pra se ter paz de espírito. Acredite na tia, ser feliz não é difícil, basta não ficar obcecada com esse assunto e deixar fluir.


Caso você venha a ter um irmão, não brigue muito com ele, ainda que você não acredite muito nisso quando ele não te emprestar os brinquedos, ele, de fato, será seu melor amigo no futuro.


Não se esqueça de ganhar dinheiro, mas nunca deixe ele te controlar, sem independência não podemos ser donos de nós mesmos, mas nunca perca seu carater e escrúpulos. Nunca deixe se comprar.


Ia esquecendo: use protetor solar e estude inglês, o mometo são as duas coisas mais necessárias.


Estude muito, viaje muito, ame muito. Uma vida sem arte tende a mediocridade, então desfrute de cinema, musicas, fotografia e tudo mais que lhe interesse. E se alguém disser que ler e chato, mande se entender comigo. Tédio só existe para os que não tem inspiração.


Desfrute de tudo que o mundo te oferecer, as vezes com moderação, outras nem tanto, sua mãe te dirá. Despentei-se sempre. Encare estradas, aeroportos, passeatas, praias, monanhas, campeonatos, vestibulares, intercâmbios, gargalhadas, madrugadas e programas de índio e, principalmene, as gagalhadas. Quando a saudade do silêncio uterino bater, busque esse silêncio dentro de você.


Então é isso Lelê, surpreenda-se. Seja corajosa e grata. Nem sempre as coisas sairão como planejamos e, ainda que sejamos bilhões, nascer continua sendo um privilégio, curta e seja ciente de duas coisas: vale a pena viver e Lelê é um apelhido do qual você não vai escapar.


Beijos da tia distante,


Roberta Dutra






















quinta-feira, 24 de novembro de 2011

check in


escrevi dia desses e esqueci de publicar...

E eis que la vinha eu, lentamente e na fila daquele assombrosso check in as 1:30 am de uma segunda chuvosa na Terra do sol. Acho que de uns tempos pra cá nada me assombra mais que o check in do Pinto Martins (aeroporto) quando vou deixar Fortaleza novamente.
Fila pra ca, aperto de lá, criança chorando daculá e chega minha vez… ‘Bagagem pra despachar?’ a moça pergunta gentilmente e, por um momento, minha garganta trava. Não sei o que dizer. Na verdade porto apenas uma mochila. Foram apenas dois dias. Mas, quando perguntada sobre qual bagagem despachar… fico tensa e paralisada… gostaria de despachar, na verdade, muito do peso que carrego em minhas andanças. Posso?
Olho ao meu redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas. Excedem aos tamanhos permitidos. Quase pergunto se posso despachar meu Painho pra Navegantes. Quase pergunto se posso despachar o sorriso largo do meu irmão, as gargalhadas da Mainha, minha tarde literária com os amigos que tanto amo. Já imaginou chegar ao aeroporto carregando o almoço de domingo para ser despachado?
Despacho as castanhas, a paçoca, a cachaça e a rapadura, mas perguntas são muitas... E se eu tiver vontade de ouvir aquela música? E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez? E se eu quiser entrar na Desafinado novamente com meus Xuxus pra escolher CDs que ainda nem chegaram no Brasil ou simplemente me jogar no chão da Sciliano e ler um poema de Quintana pro meu Rodrigo? E se eu quiser apenas dançar e dançar até o sol nascer no Amicis sem perder a oportunidade de pentelhar o Célio? E se eu quisesse apenas o abraço de um deles?
Aquela pressa costumeira que me faz partir com destino a Fortaleza e que me impedem de olhar pra tras em outros aeroportos nunca se faz presente no Pinto Martins. Nunca!
Posso pelo menos levar um suco de Ariane + Beta Aline + Nath + Carlinha e um sanduiche de Xuxu? É pra viagem, moça...
 Desisto. Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou. Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então, inevitavelmente concluo que quase tudo que levei não me sere pra nada. É passageiro.
“É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer ausências. E nisso mora o encanto da viagem. Viajar é descobrir o mundo que não temos. É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.” (Pe Fabio de Melo)
Foi ai que parei. Apenas parei e contemplei, como aquela personagem da Clarice Lispector que contemplava o Bufalo por tras da jaula do jardim zoologico. Contemplei o carro da Xuxu dobrando a esquina enquanto secava os olhos com os punhos. Contemplei com tal amor e candura que não houve risco algum naquela presença quieta e tão familiar.
O bom de partir é, de fato, poder voltar. Poder olhar o que deixamos pra tras sem a miopia de outrora e mensurando os espaços deixados pela distância. Partir e chegar me ajuda a descobrir o que sou, o que amo, e o que é essencial para que eu continue sendo. Vendo o que não é meu nem me pertençe, amo ainda mais meu territóri e minhas raizes e isso faz com que meu coração queira sempre voltar ao ponto de partida, pro lugar onde tudo começou. É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.
Vida e viagens seguem as mesmas regras. Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade de viver. Por isso é tão necessário partir. Sair na direção das realidades que nos ausentam. Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas lamúrias... De alguma maneira isso me humaniza.
SC, i’m back again...