texto escrito pra Carurina - 18-02-12
Dia desses estávamos todas nós, reunidas num restaurante-bar ao som de variados sertanejos regados a incontáveis caipirinhas de to-das as frutas e muuuuita dor-de-cotovelo. Notamos todas, quase que ao mesmo tempo, que todas as músicas que cantávamos aos berros engrossando o coral do resto do bar tratavam sempre de temas recorrentes: solidão, abandono e desamor. Assuntos estes que caem como um chumbo, ou uma luva, numa mesa de mulheres semi-sóbrias.
Relembramos tempos idos, amores passados, rios de lágrimas corridas e demos muitas gargalhadas porque, enfim, tudo nessa vida passa! Quando o(s) assunto(s) foi dado por encerrado, eis que surge a filosofa Carurina, no auge de sua "nem tão vã" filosofia e constata que felicidade não se canta (pelo menos não com tanta frequência e nem com tanto sucesso) e que não existe uma música sequer nesse planeta que diga: "Como eu sou estupidamente feliz com meu marido e meus dois filhos, na minha casinha, com meu emprego sossegado e a simples presença dos meus amigos num sábado chuvoso já me traz tamanha alegria..." (juro que estávamos tentando rimar e colocar em um ritmo qualquer) Começamos a rir litros!
E ai começa a tal da psicologia de mesa-de-bar... De fato, não damos a atenção merecida pro amor, nos contentamos com o culto a emoção, buscando irrefreavelmente o agora, a adrenalina nossa de cada dia, que é, no fundo, um sintoma da insensibilidade geral da nação. Estamos ficando robotizados, só conseguimos nos emocionar com o brand new, o risco, o impacto. Ok, uma dose de enfrentamento com o desconhecido acaricia o ego, mas não dá pra se viciar no inédito e perder a capacidade de se comover com o banal.
Pessoalmente, já viajei um montão, namorei um tanto e o fiz sempre tudo ao mesmo tempo, mas olhando pra traz, poucos dias me deram mais prazer que passar o último reveillon em casa, estourar a champagne em família e poder dizer ao meu pai, dentro de um largo abraço, o quanto isso me fez falta nos últimos anos. Não foi nenhum mega evento, eu sei, foi apenas um sentimento; essa coisa tão rara.
De lá pra cá, nem gol da seleção me toca de fato. Pude perceber que alegrias encomendadas e com hora marcada, ainda que necessárias, não me fazem mais vibrar. O que me cala mesmo é o sorriso escapado dos olhos de alguém, um gesto que era pra ser invisível e eu vi, aquele olhar que diz tudo e o sorriso que se basta.
Via de regra, todos queremos intimidade, embora raramente nos permitamos um contato realmente íntimo e desnudo de vaidades. Não queremos nos machucar mas nossas atitudes nos levam pro caminho inverso. Procuramos a felicidade cegamente e nos tornamos incapazes de identificá-la porque o nosso desejo secreto é, quase sempre, secreto até para nós mesmos.
Felizmente -conquanto eu mesma já tenha tentado inúmeras vezes-, é difícil me transformar em pedra, cimento e concreto. Podem fazer minha cabeça, posso mudar de ideia variadas vezes e ser influenciada outras tantas, mas o fato é que hoje sou um pouco mais maleável. Mas arrancar de mim a humanidade e me tornar incapacitada pro amor? Acho que não.
Como diria Marthinha (a Medeiros): "O simples nunca foi fácil, muito menos pra quem tem um coração onde muitos possuem uma pedra"
Parabéns Carurina por sua imensa, contagiante e 'estranha' felicidade com 'a-pe-nas' seu marido, filhos, casa, trabalho e uma tarde chuvosa de sábado de carnaval com os amigos. Quando eu crescer, quero ser exatamente assim! ;)
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