organizando os ingredientes

Este blog é escrito por Roberta Dutra. Nasci em Belém do Pará e passei maior parte da vida no Ceará, me mudei algumas vezes, viajei pelo mundo outras tantas e atualmente moro em Santa Catarina. Cresci em família grande, com muitos primos, primas, tios, tias e mais uns tantos agregados das mais variadas espécies. Tive uma infância plena e feliz e hoje, embora seguindo feliz, sofro muito de saudade. Registro aqui algumas impressões peculiares sobre a vida e seus desdobramentos, sobre o cotidiano e alguns tantos textos escritos para algumas pessoas em particular que exerceram e ainda exercem grande influência na minha vida, além de fazerem parte das minhas melhores lembranças, é claro! Não tenho grandes pretenções literárias, gramaticais nem sequer ortográficas, mas escrevo com muito amor, que é o que todo mundo precisa. Resumindo, mantenho o blog como meio de comunicação entre amigos e famíla distante e possíveis interessados. Entre e fique a vontade...

be my guest!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Chuta que eh macumba...


Acordei achando que precisava de reza, de uma reza braba... alias, de muitas rezas brabas... de oferendas a Iemanja, a Ogum, a Oxossi e a todos os orixas juntos ou quem quer que possa ajudar...

Na duvida, minha mae mandou o padre rezar uma missa em meu nome e pegou dois litros de agua benta na igreja pra jogar no meu quarto todas as manhas. E eu pra me ajudar tambem, resolvi entrar no mar de costas e ao inves de pular 7 ondas, pulei 21... pra ficar com credito.

Essa definitivamente foi a pior semana do ano. Um roubo a mao armada, vidro de carro quebrado, nao mais documentos, sem mais cartoes de credito ou dinheiro... ate a maquilagem eles levaram. Me sinto nua. Tenho q andar com um BO e a carteira de trabalho – unico documento com foto que me restou... sacar dinheiro? Soh se for na minha propria agencia que tem a maios fila de Fortaleza... =/

Em meio ao caos de providenciar outros documentos e cartoes e isso e aquilo e tudo o mais, e como se nao bastasse: eu acordei ex! (se eh que eu posso me autodenominar assim).

Acabamos na manha de segunda, dia mais triste e melancolico e sem inspiracao pra se resolver alguma coisa (e se eh que tinhamos alguma coisa...). Na mesma manhã, o computador pergunta se desejo trocar a senha com seu nome. Faltam 3 dias para expirar. Cheira implicância. Daqui a tres dias, é feriado. Não estará presente, pelo jeito. Será um feriado sem surpresas. Sem dividir os lencois. Sem os abracos, sem os sorrisos e sem os “mt mt”. Sem aquela vontade de atravessar a idade de mãos dadas (acho que estou esticando a baladeira, perdoem-me, estou sentimental).

A causa de tudo eh que a falta de consideracao e preocupacao e cuidado com o sentimento alheio já não é um problema, e esse é um problema. Tudo é normal, ou nos normalizamos rapidamente com qualquer coisa, a tal ponto que não existe anormalidade.

Depois do sexo livre, da amizade colorida e do mergulho na lama, a monogamia virou um preconceito. A moral agora é não sofrer com a moral, o que parece um paradoxo. Temos que nos aceitar como não somos.


Tenho que controlar o coitadismo. Não há vítima na briga (ou discussao ou o que quer que seja) há dois agressores. Sou um deles. As pedras no bolso são versáteis, servem tanto para o suicídio como para o homicídio.


Nenhum dos dois quis mudar. Mudar era visto como piorar, infelizmente. Nos gostamos o suficiente para morrer, não o suficiente para nascer de novo.


Não vou telefonar, não vou mandar torpedo, apesar da vontade imensa de reatar. O orgulho assumiu meu quarto. Conversa com ele agora. Com essa governanta das minhas desvalias, do meu guarda-roupa e sapatos. Estou de castigo, protegido, ausente, impedido de responder por mim. Se fosse responder, avisaria que ainda gosto de você, que o desejo de volta. Infelizmente sou capacho de minha angústia. Piso em minhas palavras para limpar os pés da chuva.


O desamor é treino. Não existe desamor. Existe ensaio, simulação da indiferença, controle absurdo do cumprimento. Não que não sinta nada por você, sinto absolutamente tudo mais do que nunca e não consigo comunicar. Os cotovelos latejam, a cabeça bóia, as pernas mergulham numa fraqueza de maratona.


É esquisito ser sua ex. O corpo não aceita participar da greve de fome. No dia seguinte, sou sua ex. Acordei ex. Pronto. Na noite anterior, era uma pessoa importante. Agora virei uma estranha, um engano. É excessivamente cruel. Largar uma história em comum sem nenhuma desintoxicação, tratamento, cuidado. Sem nenhuma ante-sala para chorar, berrar, espernear, expiar a febre. É muito mais grave do que um vício.


Quando ardia alguma angústia, dizia que logo passava.


Não passará logo. Fingirei. Fingirei que me darei melhor sozinho. É uma estrondosa mentira que também acreditará porque não tem escolha. Sou uma mesa para dois, serei sempre uma mesa para dois. Levarei minhas malas para ocupar a cadeira ao lado. Enfrentarei os questionamentos: "onde você anda?": nos lugares em que frequentávamos juntos. Explicarei que brigamos, escutarei dos amigos que é normal e que logo faremos as pazes, comentarei que é definitivo por educação e para não sofrer mais.


O ex mente, integralmente mente, complicado porque eu aprendi a gostar da verdade. Não temos um bom motivo para se procurar novamente. Não projetamos pretextos para a reconciliação, como esquecemos disso?


Resisto a trocar a senha, aceito as migalhas da casualidade, não estou pronta, ninguém está pronto para se separar. O computador é mais caridoso do que a gente. Coloca prazos. O prazo é uma esperança disfarçada de adiamento. Como dói o que não começou a doer.


Não preciso de férias, preciso de outra vida. E como nao eh possivel, me contento com um feriado distante de todos. De todos os rostos, vozes, dos mesmos lugares, do teu cheiro e de tudo. Queria mesmo era ir pro Tibet!

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