escrevi dia desses e esqueci de publicar...
E eis que la vinha eu, lentamente e na fila daquele assombrosso check in as 1:30 am de uma segunda chuvosa na Terra do sol. Acho que de uns tempos pra cá nada me assombra mais que o check in do Pinto Martins (aeroporto) quando vou deixar Fortaleza novamente.
Fila pra ca, aperto de lá, criança chorando daculá e chega minha vez… ‘Bagagem pra despachar?’ a moça pergunta gentilmente e, por um momento, minha garganta trava. Não sei o que dizer. Na verdade porto apenas uma mochila. Foram apenas dois dias. Mas, quando perguntada sobre qual bagagem despachar… fico tensa e paralisada… gostaria de despachar, na verdade, muito do peso que carrego em minhas andanças. Posso?
Olho ao meu redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas. Excedem aos tamanhos permitidos. Quase pergunto se posso despachar meu Painho pra Navegantes. Quase pergunto se posso despachar o sorriso largo do meu irmão, as gargalhadas da Mainha, minha tarde literária com os amigos que tanto amo. Já imaginou chegar ao aeroporto carregando o almoço de domingo para ser despachado?
Despacho as castanhas, a paçoca, a cachaça e a rapadura, mas perguntas são muitas... E se eu tiver vontade de ouvir aquela música? E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez? E se eu quiser entrar na Desafinado novamente com meus Xuxus pra escolher CDs que ainda nem chegaram no Brasil ou simplemente me jogar no chão da Sciliano e ler um poema de Quintana pro meu Rodrigo? E se eu quiser apenas dançar e dançar até o sol nascer no Amicis sem perder a oportunidade de pentelhar o Célio? E se eu quisesse apenas o abraço de um deles?
Aquela pressa costumeira que me faz partir com destino a Fortaleza e que me impedem de olhar pra tras em outros aeroportos nunca se faz presente no Pinto Martins. Nunca!
Posso pelo menos levar um suco de Ariane + Beta Aline + Nath + Carlinha e um sanduiche de Xuxu? É pra viagem, moça...
Desisto. Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou. Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então, inevitavelmente concluo que quase tudo que levei não me sere pra nada. É passageiro.
“É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer ausências. E nisso mora o encanto da viagem. Viajar é descobrir o mundo que não temos. É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.” (Pe Fabio de Melo)
Foi ai que parei. Apenas parei e contemplei, como aquela personagem da Clarice Lispector que contemplava o Bufalo por tras da jaula do jardim zoologico. Contemplei o carro da Xuxu dobrando a esquina enquanto secava os olhos com os punhos. Contemplei com tal amor e candura que não houve risco algum naquela presença quieta e tão familiar.
O bom de partir é, de fato, poder voltar. Poder olhar o que deixamos pra tras sem a miopia de outrora e mensurando os espaços deixados pela distância. Partir e chegar me ajuda a descobrir o que sou, o que amo, e o que é essencial para que eu continue sendo. Vendo o que não é meu nem me pertençe, amo ainda mais meu territóri e minhas raizes e isso faz com que meu coração queira sempre voltar ao ponto de partida, pro lugar onde tudo começou. É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.
Vida e viagens seguem as mesmas regras. Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade de viver. Por isso é tão necessário partir. Sair na direção das realidades que nos ausentam. Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas lamúrias... De alguma maneira isso me humaniza.
SC, i’m back again...
chorei. saudade de ti.
ResponderExcluirEu voltei, Isa. To na área. Vamos marcar uma geladinha de leve preu ver meu sobrinho nordikon.
ResponderExcluirbj