organizando os ingredientes

Este blog é escrito por Roberta Dutra. Nasci em Belém do Pará e passei maior parte da vida no Ceará, me mudei algumas vezes, viajei pelo mundo outras tantas e atualmente moro em Santa Catarina. Cresci em família grande, com muitos primos, primas, tios, tias e mais uns tantos agregados das mais variadas espécies. Tive uma infância plena e feliz e hoje, embora seguindo feliz, sofro muito de saudade. Registro aqui algumas impressões peculiares sobre a vida e seus desdobramentos, sobre o cotidiano e alguns tantos textos escritos para algumas pessoas em particular que exerceram e ainda exercem grande influência na minha vida, além de fazerem parte das minhas melhores lembranças, é claro! Não tenho grandes pretenções literárias, gramaticais nem sequer ortográficas, mas escrevo com muito amor, que é o que todo mundo precisa. Resumindo, mantenho o blog como meio de comunicação entre amigos e famíla distante e possíveis interessados. Entre e fique a vontade...

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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

check in


escrevi dia desses e esqueci de publicar...

E eis que la vinha eu, lentamente e na fila daquele assombrosso check in as 1:30 am de uma segunda chuvosa na Terra do sol. Acho que de uns tempos pra cá nada me assombra mais que o check in do Pinto Martins (aeroporto) quando vou deixar Fortaleza novamente.
Fila pra ca, aperto de lá, criança chorando daculá e chega minha vez… ‘Bagagem pra despachar?’ a moça pergunta gentilmente e, por um momento, minha garganta trava. Não sei o que dizer. Na verdade porto apenas uma mochila. Foram apenas dois dias. Mas, quando perguntada sobre qual bagagem despachar… fico tensa e paralisada… gostaria de despachar, na verdade, muito do peso que carrego em minhas andanças. Posso?
Olho ao meu redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas. Excedem aos tamanhos permitidos. Quase pergunto se posso despachar meu Painho pra Navegantes. Quase pergunto se posso despachar o sorriso largo do meu irmão, as gargalhadas da Mainha, minha tarde literária com os amigos que tanto amo. Já imaginou chegar ao aeroporto carregando o almoço de domingo para ser despachado?
Despacho as castanhas, a paçoca, a cachaça e a rapadura, mas perguntas são muitas... E se eu tiver vontade de ouvir aquela música? E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez? E se eu quiser entrar na Desafinado novamente com meus Xuxus pra escolher CDs que ainda nem chegaram no Brasil ou simplemente me jogar no chão da Sciliano e ler um poema de Quintana pro meu Rodrigo? E se eu quiser apenas dançar e dançar até o sol nascer no Amicis sem perder a oportunidade de pentelhar o Célio? E se eu quisesse apenas o abraço de um deles?
Aquela pressa costumeira que me faz partir com destino a Fortaleza e que me impedem de olhar pra tras em outros aeroportos nunca se faz presente no Pinto Martins. Nunca!
Posso pelo menos levar um suco de Ariane + Beta Aline + Nath + Carlinha e um sanduiche de Xuxu? É pra viagem, moça...
 Desisto. Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou. Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então, inevitavelmente concluo que quase tudo que levei não me sere pra nada. É passageiro.
“É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer ausências. E nisso mora o encanto da viagem. Viajar é descobrir o mundo que não temos. É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.” (Pe Fabio de Melo)
Foi ai que parei. Apenas parei e contemplei, como aquela personagem da Clarice Lispector que contemplava o Bufalo por tras da jaula do jardim zoologico. Contemplei o carro da Xuxu dobrando a esquina enquanto secava os olhos com os punhos. Contemplei com tal amor e candura que não houve risco algum naquela presença quieta e tão familiar.
O bom de partir é, de fato, poder voltar. Poder olhar o que deixamos pra tras sem a miopia de outrora e mensurando os espaços deixados pela distância. Partir e chegar me ajuda a descobrir o que sou, o que amo, e o que é essencial para que eu continue sendo. Vendo o que não é meu nem me pertençe, amo ainda mais meu territóri e minhas raizes e isso faz com que meu coração queira sempre voltar ao ponto de partida, pro lugar onde tudo começou. É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.
Vida e viagens seguem as mesmas regras. Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade de viver. Por isso é tão necessário partir. Sair na direção das realidades que nos ausentam. Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas lamúrias... De alguma maneira isso me humaniza.
SC, i’m back again...

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