organizando os ingredientes

Este blog é escrito por Roberta Dutra. Nasci em Belém do Pará e passei maior parte da vida no Ceará, me mudei algumas vezes, viajei pelo mundo outras tantas e atualmente moro em Santa Catarina. Cresci em família grande, com muitos primos, primas, tios, tias e mais uns tantos agregados das mais variadas espécies. Tive uma infância plena e feliz e hoje, embora seguindo feliz, sofro muito de saudade. Registro aqui algumas impressões peculiares sobre a vida e seus desdobramentos, sobre o cotidiano e alguns tantos textos escritos para algumas pessoas em particular que exerceram e ainda exercem grande influência na minha vida, além de fazerem parte das minhas melhores lembranças, é claro! Não tenho grandes pretenções literárias, gramaticais nem sequer ortográficas, mas escrevo com muito amor, que é o que todo mundo precisa. Resumindo, mantenho o blog como meio de comunicação entre amigos e famíla distante e possíveis interessados. Entre e fique a vontade...

be my guest!

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Melancholia








Li esses dias que uma vida melhor eh uma vida mais rica, e eu acredito! Acho que as pessoas se tornam mais ricas quando conseguem ver as relacoes, os lacos, as continuidades e descontinuidades de sua propria trajetoria. Quando nao somente vejo, mas consigo enxergar, minha vida se torna um tanto mais interessante.

Sempre quiz ser o filho homem do meu pai, ou pelomenos a filha que nunca chora, que nunca tem medo, que nunca pede ajuda, a forte, debravadora e a mais segura de si, mas nao vem dando certo... Sabe aquele estereotipo do “ser homem”? Sempre me foi um estereotipo solido, o jeito de se vestir, o tom da fala e a expressao de uma certa maneira... Nunca fui um catao-postal de feminilidade, daqueles que se via no seculo XIX, e ate hoje quando me sinto insegura, vou ate o espelho e digo: “seja homem!”. O problema dualista e contraditorio  eh definir o que seria a tarefa de ser homem.

Passando por um periodo de quebra de tabus e vendo antigas crencas, ate entao imutaveis, cair por terra, ando me questionando ate onde vale a pena camuflar sentimentos pra posar de durona e  sobre “o que eh dar certo”? E essa interrogacao se estende, no momento, a todos os aspectos da minha vida, a todas as faces do meu prisma e a todas as cores do meu arco-iris.

Mas afinal, o que eh “dar certo”? Sera que as coisas e relacoes se medem pelo tempo que duram? Acho meio maluco pensar assim... As coisas nao dao certo soh porque elas duram, elas duram pela sua qualidade. As relacoes dao certo quando se consegue potencializar os desejos. Ontem escutei de uma colega de academia: “tudo que comeca rapido, termina rapido”. Uódafucka? Isso quer dizer que mesmo que haja uma sincronia perfeita temos que desacelerar com medo de acabar rapido? Mas se desacelerar nao tem graca...

Segundo Contardo (o Calligaris), um moco muito sabido, uma relacao que da certo eh aquela em que o outro me torna mais capaz de fazer o que eu desejo. Em que o outro me autoriza a fazer o que eu desejo mais do que eu mesma me autorizaria. Preciso dizer que sou mega fa DO cara? Ele definitivamente podia ser mei psicanalista...

Talvez a busca incessante por felicidade seja uma enorme fonte de frustracao. Primeiro porque a maioria de nos nem saberia definir felicidade ou mesmo mensura-la e segundo porque a felicidade tornou-se um produto de mercado. Esses dias mesmo estava numa livraria e me assustei com a quantidade de livros de auto ajuda e de especies de manuais da felicidade e disso e daquilo... Sera que todo mundo quer mesmo ser feliz o tempo inteiro?

Prefiro as experiencias com todas as suas variacoes iminentes e intensidades diversas. Talvez isso seja um paradoxo completamente intoleravel,mas eu sou intensa! E dai? Sou um conjunto quase que infinito de exclamacoes, mas isso nem sempre quer dizer muitas certezas, e gosto de viver a plenitude de tudo o que a vida tem a me oferecer.

Quero e preciso poder me desesperar quando perco alguem que amo, exatamente como nesse minuto, seja porque morreu, porque me deixou ou simplesmente porque a vida nos separou. Porque se privar de experiencias tao ricas? Medo de sofrer? Medo da dor? Mas a riqueza das experiencias, mesmo que as vezes sejam dolorosas, sao cruciais e comum a todos...

Profissionalmente sempre desejei muito e quase sempre tive tudo o que quiz, a parte do atual momento em que estou pensando seriamente em desacelerar. Na verdade me vejo em um momento de dar um passo pra tras, pegar folego e correr um pouco mais na frente. E mesmo assim, me recuso a pensar pequeno e me limitar com medo de uma possivel decepcao.

Tem gente que diz que nao se apaixona porque nao quer sofrer, ou entao diz que nao tem grandes ambicoes no trabalho com medo de se frustrar. Parar de desejar nao eh uma boa estrategia! Pelo menos nao funciona pra mim...

Eh tudo estranho! Tudo esta muito estranho! Acho que esse mal estar afetivo limita nossa capacidade de entrega. No trabalho, todos querem ser chefes independente do que tenham de fazer ou de quanto tempo de sua vida pessoal tenha que ser sacrificado pra isso. Na vida afetiva, todos vao pra balada, se beijam e a porra toda acaba no fim da noite. Todos voltam pra casa fantasiando um possivel namoro ou affair que nao vai acontecer porque quase todos querem tambem estar disponiveis no dia seguinte. Parece uma droga, um vicio ou coisa do tipo onde se sente falta da proxima dose, numa tortuosa carencia afetiva.

A liberdade chega a ser um fardo porque implica em muita responsabilidade, que deveria pelo menos em teoria ser com seus sentimentos e com os alheios tambem, e em escolhas cheias de incertezas sobre o que realmente queremos. No momento, queria mesmo era voltar a ser crianca, depender de mesada de pai e ter a mae do lado me dizendo o que pensar e fazer.

Talvez esteja com medo de envelhecer. Seria uma crise precoce de pre-balzaquiana? Tenho 27 anos, zero instinto materno, nenhuma vontade de formar familia (pelo menos nao de uma forma convencional), nao me vejo entrando numa igreja, ate pq nao tenho um par, nao vislumbro a compra do meu tao sonhado apartamento, ja que meu saldo bancario nao colabora... Acho que o fato de envelhecer assusta e as escolhas de toda uma vida comecam a pesar. O unico lado positivo eh que a percepcao fica mais apurada e hoje vejo que meu orgulho nao vale de nada e nem nunca valeu.

E termino minha noite de quinta feira dividida entre duas trilhas sonoras melancolicas. Enquanto todos se embriagam, sigo na minha casa, escrevendo e secando as lagrimas com os punhos e alternando no ipod codinome beijaflor – do cazuza e i’ll stand by you - do pretenders. Porque mentir, fingir que perdoou? Tentar ficar amigos sem rancor... Whatever, i’ll stand by you!

E antes que eu pegue no sono, aproveito pra ler mais uma vez um classico trecho de Paulo Mendes Campos, sobre a hora em que supostamente o amor se dissolve:

“... as vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com docura e esperanca; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o alcool; de manha, de tarde, de noite; na floracao excessiva da primavera; no abuso do verao; na dissonancia do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; pra recomecar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.”

Non, rien de rien, non, je ne regrette rien... Eh minha querida Piaf, nao! Nao me arrependo do que fiz, mas do que deixei de fazer, das palavras nao ditas por orgulho, do abraco nao dado tambem por orgulho, da lagrima contida e do perdao nao concedido... but whatever will be, will be... but for now it’s just another lonely day...

E como diria Fagner, poeta da terrinha: “Onde a máquina me leva não há nada. Horizontes e fronteiras são iguais. Se agora tudo que eu mais quero já ficou prá trás... Alguém sentando a beira do caminho jamais entenderá o que é que eu sinto agora, sou levada pelo movimento que tua falta faz...”

Boa noite! Wishing better days... better days!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário